06/09/08

Velhas canções

Sentei-me para esperar, e fui buscar uma cerveja ao balcão. Paguei de imediato, não sabia quanto tempo iria ficar, beber mais. Regressei à mesa e retirei um livro da mala, folheei-o sem prestar atenção ao que estava escrito. 
Os anos matam os hábitos. Sabia que a conversa se iniciaria como se nunca tivesse sido interrompida - assim são os amigos. Mas perdemos alguma coisa - e a chuva lá fora obrigava a um prolongamento, a um rumo incerto para a conversa, desembocando sempre em antigas recordações, que a mim me parecem batidas (a ele também?); seguir em frente, será pedir muito? Perdemos, ganhámos, nada conta, as coisas acontecem. 
E os defeitos, esbatidos na memória, evidenciam-se. A música não é uma máquina do tempo; é um espelho que reflecte o passado, nem sempre de forma clara, ecoa acontecimentos de que se perdeu o sentido.
Somos outros? Bebemos da mesma maneira, e quando a noite chega ao fim, ameaçamos confissões e arrependimentos, falamos de mulheres que amamos.
O fim é uma viagem sem regressso, a caminho de casa.

[Sérgio Lavos]

Sem comentários: