O que me parece ser o texto mais sensato sobre Sarah Palin, o único que coloca os pontos nos i's.
Não sei até que ponto Luís Rainha não terá criado anticorpos no blogue que o acolhe, mas é verdade o que ele afirma: a campanha que alguns blogues de esquerda têm feito desde que foi anunciado o nome da senhora para vice de McCain cheira a enxofre, roçando o puro marialvismo, à moda de Miguel Sousa Tavares.
A reacção de alguma esquerda não é um acidente; é um sintoma. É como o rancor contra as mulheres muçulmanas que decidem usar um lenço nos cabelos ou aceitam a poligamia. O progresso, muitas vezes, tem de ultrapassar questões tão incómodas como a individualidade ou a liberdade pessoal. Sarah Palin, mulher independente que conseguiu chegar a um cargo de poder num estado dominado por uma cultura ancestral predominantemente masculina - a caça, a pesca, a luta contra a natureza agreste - deveria ser um exemplo para a condição feminina. Contudo, Camile Paglia foi a única feminista conhecida que se pronunciou em favor da escolha da candidata, e fê-lo não por apoiar as suas ideias, mas sim pelo simbolismo de ter uma mulher com valores conservadores como provável vice-presidente. Por isso, será para mim estranha a série interminável de posts publicados por Palmira Silva no Cinco Dias sobre Palin. Eu sei que Palmira, como cientista, detesta por princípio qualquer criacionista - e faz bem. Mas julgo que um limite racional deverá ter sido ultrapassado - e não sei se a cientista se apercebeu disso.
E diga-se que todos os valores que Palin defende estão no espectro oposto daquilo que eu defendo. No entanto, lutaria de bom grado pelo direito de ela poder concorrer a um cargo político sem ser apelidada de "dona-de-casa do Alasca". Felizmente, a frase de Miguel Sousa Tavares vale o que vale, nada, tanto como o respeito que ele deve merecer: nenhum.
[Sérgio Lavos]
Sem comentários:
Enviar um comentário