O capitalismo constipou-se. Curiosamente, os pingos dos espirros podem demorar a atingir-nos. Parece-me bem. Os idealistas liberais dizem "calma", que é apenas o mercado a regular-se (como o fazem as gasolineiras que não baixam os preços do combustível quando baixa o preço do petróleo ou os construtores, em tempo de crise imobiliária, que continuam a construir e a manter os preços das casas - o poeta falava do problema da habitação há muito, não é de agora); os idealistas marxistas têm a oportunidade de lançar um ou outro fogacho envergonhado, sábio, de quem prevê um futuro em que tudo se recomporá; os realistas viram-se para o outro lado da cama e adormecem. No fundo, quem pegou a constipação foram os pobres, malandros, que andaram anos e anos a viver acima das possibilidades, levando desse modo o caos aos mercados.
Seria necessário explicar em linguagem de criança o funcionamento da máquina capitalista - o esforço de imaginação, a simplicidade da engrenagem que contém em si o seu próprio fim: a falência de gigantes financeiros, de empresas, é sempre previsível. Que depois do Crash de 1929 milhões de pessoas tenham passado fome por todo o mundo, nem chega a ser um grão que emperre o movimento. Pormenores da história, crises económicas que redundam em regimes enlouquecidos, países de rastos que se transformam em ameaça à paz no mundo.
Sobretudo, é necessário manter o optimismo; que ainda não é desta. Que o desemprego, a inflação e a provável (atenção, provável) miséria são, já se sabe, prova de que os mercados se auto-regulam. O declive acentua-se, mas a ilusão de equilíbrio ainda não foi estilhaçada. A cura é inevitável. Rejubilemos.
[Sérgio Lavos]
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