08/09/08

House of cards/Radiohead



Um ano depois de ter sido lançado via Internet In Rainbows, é extraído o 5º single, o que acaba por ser indicativo do êxito do álbum. Nada mau para uma banda que decidiu ser original, rompendo com a editora EMI e colocando o seu trabalho à disposição em troca de um valor à escolha dos fãs, que podia ir do zero ao infinito. Eu lá acabei por gastar dez euros digitais, mais dez libras pelo CD alguns meses depois, e da minha parte continuo a achar que ainda não está pago. 
No outro dia, em conversa com amigos, meditava sobre um possível top 5 de bandas e a única facilidade com que me deparei envolvia o primeiro lugar: Radiohead, sem discussão. Vale o que vale, e vale o facto da minha banda preferida ser liderada por um maníaco-depressivo paranóico com um rosto assustadoramente assimétrico. Adiante. Não seria de estranhar, por isso, que eu ache todas as músicas deste álbum potenciais singles. O mais acessível desde OK Computer (mas não o melhor, esse será Amnesiac), letras minimamente, digamos, mentalmente equilibradas, o que é um contra, fragmentos de melodias flutuando numa cápsula espacial vazia. Mais do mesmo, portanto.
Quanto ao vídeo, excelente. A desolação digital no seu esplendor frio e extraterrestre, paisagens naturais e rostos humanos transformados em pontos, linhas e rectas, as dimensões espaciais reduzidas ao que realmente são: um conjunto de nada, quarks animados por uma aleatória vontade. Criado em computador a partir da colocação de pontos sensoriais na matéria (os corpos e a paisagem), dispensando o uso de câmaras ou de luz, será talvez o vídeo que melhor traduz em imagens as sensações transmitidas pela música da banda. Emoções à flor da pele metálica de um andróide depressivo. Eis os Radiohead.
  
[Sérgio Lavos]

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