Não sei se repararam, mas o amável exercício da amizade a que Vasco Pulido Valente (VPV) se sujeitou no Público é uma aguçada espada de dois gumes apontada na direcção de Paulo Portas. O Luís M. Jorge acha que VPV diz bem de PP. Mas se lermos de fio a pavio o artigozinho, não encontraremos um único elogio ao homem, ao político, ao estadista, ao putativo salvador do naufrágio em que a direita embarcou há algum tempo - e isto, inclui, claro, o mais desfasado partido do espectro político, o CDS, ou PP, ou CDS-PP, ou o que lhe queiram chamar.
A verdade é que o malabarismo estilístico de VPV pode ter um de dois resultados, e parece-me que neste caso conseguiu exactamente o oposto do que admite fazer atingindo aquilo que pretendia realmente atingir. Eu explico: nada há na crónica que indique que VPV coloque Paulo Portas num patamar mais elevado do que a bitola com que aquele costuma despachar a classe política em geral. Já conhecemos o rol de lamentos: a degradação da classe, a incompetência, o populismo e a falta de preparação para os cargos, sobretudo a ausência de uma aura de nobreza que, diz-se, em tempos era associada aos políticos. Não é preciso ler Platão para acreditar em utopias. Mas, na realidade, quantos homens verdadeiramente grandes eram políticos, nos últimos cem anos. 5? Mais do que isso? Há, no entanto, um mito a perpetuar, uma necessidade extrema de acreditar que a liderança de um povo é uma tarefa destinada aos melhores Homens disponíveis. Nunca foi assim - e a discussão acerca das habilitações académicas de José Sócrates é mais uma prova disto. O nosso homem da grande área netse jogo é VPV. E caramba, se dá gosto olhar para as movimentações linguísticas que ele ensaia, o estilo gingão de velho número dez ameaçando e fintando, finalmente disparando sem hipótese para o adversário.
Mas o estilo não é tudo, e revela quase sempre as fraquezas de quem se perde em rodriguinhos desnecessários. É preciso estar atento; o que VPV faz na crónica, é olhar para a esquerda e centrar para a direita, distraindo o adversário. Dizendo mal dos inimigos de Portas, repisando a tradicional litânia junto ao muro das lamentações a que estamos habituados - há uma senhora, neste caso, que é indirectamente visada. Nem por um momento se nega que Portas e os seus partidários tenham sido inocentes na vergonhosa situação que se viveu no passado fim-de-semana. Em nenhuma altura se questiona a capacidade camaleónica de Portas e o seu valor intrínseco: será bom ou mau ele ter andado aos ziguezagues todos estes anos, em busca do palanque certo para se colocar em bicos de pés, atropelando quem foi encontrando pelo caminho? Enquadrar-se-à a condução perigosa de Portas nos parâmetros de excelência que VPV defenderá (presumo eu) para a classe política? - apesar de nunca sobre eles ter escrito, dado a sua tendência para revelar apenas o negativo dos retratos tirados.
Será Paulo Portas o modelo de político a seguir, ou aquele "óptimo ministro da Defesa" é um sapo vivo que chega, por momentos, a soar a ironia camiliana? Que espécie de impulso leva VPV a considerar, sem se rir por dentro, ser perfeitamente "legítimo" ameaçar e insultar e querer tomar pela força um partido político? Onde pode residir a credibilidade de VPV, que parece ser historiador, quando troca a verve e a saudável acidez que reserva para quase todos, justa ou injustamente, por uma mal-disposta e amena indignação esgrimida em nome de uma, mais do que provável, amizade a um escroque? Terá perdão? E terá Portas percebido o que VPV acha mesmo dele?
A verdade é que o malabarismo estilístico de VPV pode ter um de dois resultados, e parece-me que neste caso conseguiu exactamente o oposto do que admite fazer atingindo aquilo que pretendia realmente atingir. Eu explico: nada há na crónica que indique que VPV coloque Paulo Portas num patamar mais elevado do que a bitola com que aquele costuma despachar a classe política em geral. Já conhecemos o rol de lamentos: a degradação da classe, a incompetência, o populismo e a falta de preparação para os cargos, sobretudo a ausência de uma aura de nobreza que, diz-se, em tempos era associada aos políticos. Não é preciso ler Platão para acreditar em utopias. Mas, na realidade, quantos homens verdadeiramente grandes eram políticos, nos últimos cem anos. 5? Mais do que isso? Há, no entanto, um mito a perpetuar, uma necessidade extrema de acreditar que a liderança de um povo é uma tarefa destinada aos melhores Homens disponíveis. Nunca foi assim - e a discussão acerca das habilitações académicas de José Sócrates é mais uma prova disto. O nosso homem da grande área netse jogo é VPV. E caramba, se dá gosto olhar para as movimentações linguísticas que ele ensaia, o estilo gingão de velho número dez ameaçando e fintando, finalmente disparando sem hipótese para o adversário.
Mas o estilo não é tudo, e revela quase sempre as fraquezas de quem se perde em rodriguinhos desnecessários. É preciso estar atento; o que VPV faz na crónica, é olhar para a esquerda e centrar para a direita, distraindo o adversário. Dizendo mal dos inimigos de Portas, repisando a tradicional litânia junto ao muro das lamentações a que estamos habituados - há uma senhora, neste caso, que é indirectamente visada. Nem por um momento se nega que Portas e os seus partidários tenham sido inocentes na vergonhosa situação que se viveu no passado fim-de-semana. Em nenhuma altura se questiona a capacidade camaleónica de Portas e o seu valor intrínseco: será bom ou mau ele ter andado aos ziguezagues todos estes anos, em busca do palanque certo para se colocar em bicos de pés, atropelando quem foi encontrando pelo caminho? Enquadrar-se-à a condução perigosa de Portas nos parâmetros de excelência que VPV defenderá (presumo eu) para a classe política? - apesar de nunca sobre eles ter escrito, dado a sua tendência para revelar apenas o negativo dos retratos tirados.
Será Paulo Portas o modelo de político a seguir, ou aquele "óptimo ministro da Defesa" é um sapo vivo que chega, por momentos, a soar a ironia camiliana? Que espécie de impulso leva VPV a considerar, sem se rir por dentro, ser perfeitamente "legítimo" ameaçar e insultar e querer tomar pela força um partido político? Onde pode residir a credibilidade de VPV, que parece ser historiador, quando troca a verve e a saudável acidez que reserva para quase todos, justa ou injustamente, por uma mal-disposta e amena indignação esgrimida em nome de uma, mais do que provável, amizade a um escroque? Terá perdão? E terá Portas percebido o que VPV acha mesmo dele?
[Sérgio Lavos]
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