Half Nelson (Encurralados) é o primeiro filme de Ryan Fleck (que desenvolve a sua curta-metragem Gowanus, Brooklyn (2004) sobre a relação entre uma aluna e um professor) que nos conta a história de Dan Dunne (Ryan Gosling), um professor de História numa escola de Brooklyn, viciado em crack, solitário, desiludido, que entrega toda a sua energia às aulas ensinando dialéctica a adolescentes com problemas sócio-económicos, em vez de lhes ensinar o tradicional rol de factos históricos sobre lutas pelos direitos civis e mudanças na sociedade. Isto agravado, ou atenuado, pela amizade silenciosa que vai mantendo com a sua antítese, Drey (Shareeka Epps), uma aluna cúmplice da sua dualidade. Estas aulas são a base para o desenvolvimento do argumento, simples e directo, porque toda a mudança se resume à luta de opostos, à relação inconciliável dos contrários numa fantástica metáfora de vida. Através de episódios paralelos entre Dan e Drey damo-nos conta que o que inicialmente pode parecer pedantismo indie americano logo se torna uma experiência intensa vivida pelos excelentes actores numa luta para aguentarem mais um dia, entre a euforia das aulas e a solidão fora delas, entre a impossibilidade de largar a dependência e a inevitabilidade de nela entrar. A síntese é uma possibilidade forte mas insegura, negada pela circularidade histórica, escrevendo, de um modo amoral e brilhante, os episódios balançados pela música sempre presente dos Broken Social Scene. Formalmente, um registo ainda para a câmara ao ombro e o perfeito formato fotográfico quadrado da imagem e para os locais exteriores de filmagem. À saída, a sensação de que a melancolia não tem de ser necessariamente deprimente.
[Susana Viegas]
[Susana Viegas]
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