07/03/07

Jean Baudrillard


Jean Baudrillard morreu aos 77 anos. O autor corrosivo e niilista da sociedade e cultura contemporâneas, é autor de livros obrigatórios como Simulacros e Simulação e A troca simbólica e a morte onde desenvolve os conceitos filosóficos de simulacro e hiper-real. O que mais admira ao ler o artigo de hoje no Público (aliás, com informação muito semelhante ao Nouvel Observateur) é o facto de um professor universitário se preocupar mais em fazer futurologia "o docente não prevê grande futuro para a obra de Baudrillard, para além do contributo para "a constituição do imaginário contemporâneo", "patente no Matrix dos irmãos Wachowski e no eXistenZ de David Cronenberg" do que em anular a ideia feita de que The Matrix é um filme fiel à filosofia de Baudrillard; preocupado com a bola de vidro, não se deu ao trabalho de questionar um dado errado - The Matrix não retrata fielmente o pensamento de Baudrillard.

É verdade que não há consenso relativamente ao destaque que o filófoso possa vir a ter na história da Filosofia do século XX e também é verdade que os irmãos Wachowski se inspiraram em Baudrillard - recuperam a frase "o deserto do próprio real" (Simulacros e Simulação, Relógio D'Água, pág.8). O filme é obviamente inspirado em Jean Baudrillard (Neo esconde os "paraísos virtuais" num livro deste filósofo), ainda que este, numa entrevista dada ao Nouvel Observateur de Junho 2003, não aceite apadrinhá-lo e afirme mesmo ter recusado participar no argumento. Neste filme, há uma realidade verdadeira paralela ao real virtual, ou seja, mantém as categorias tradicionais entre o verdadeiro e o falso, o real e o artificial. A frase "o deserto do próprio real" (Slavoj Zizek também partiu desta frase para uma enorme análise do filme) é recuperada porque o real de Neo está desertificado, é virtual, mas Neo pode ver a verdadeira realidade, a comunidade de Zion que resiste à interferência simuladora. Ora, isto não é de todo o que Baudrillard afirma sobre a realidade do virtual ou sobre a totalidade de simulacros.


[Susana Viegas]

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