16/03/07

Moral

Ainda a propósito de "Diário de um Escândalo", lembrei-me de uns textos escritos por Pedro Mexia no seu anterior blogue Fora do Mundo, em que ele fazia a apologia do gosto por ninfetas. É um risco defender tais coisas num tempo de severa perseguição a quem se atreva sequer a imaginar que uma rapariga de quinze anos possa ter alguns atractivos de ordem sexual. As confusões entre pedofilia, pederastia, crime e inclinação sexual, assim como a mistura entre moral privada e pública e verdadeiro crime, fazem com que, por exemplo, há alguns anos atrás uma professora norte-americana tenha sido condenada a alguns anos de prisão por ter mantido uma relação com um aluno, com quem aliás veio depois a casar. O que, sem dúvida, na altura me fez sorrir quase na mesma medida com que me indignei com o caso. A questão é: onde acaba a diferença sexual e começa o crime? A linha tem de ser traçada. As sociedades ocidentais definem uma idade, 16 ou 18 anos, mas a verdade é que as únicas razões que sustentam este limite são de natureza cultural. O que deveria ser tomado em linha de conta, o consentimento dos dois (ou mais) parceiros, é apenas uma desnecessária abstracção, tanto para a moral colectiva como para os legisladores. No filme de que falo, a professora nunca se sente arrependida do que fez, apenas se sente constrangida pela inevitável perseguição que os media lhe movem, pelas pressões da sociedade a que pertence. Quando, a determinada altura, a mãe do adolescente irrompe pela casa de Sheba dentro, agredindo-a e insultando-a, o que está verdadeiramente em causa não é a natureza do acto da professora - consentido pelo adolescente (as condicionantes da sexualidade masculina não permitem que seja de outro modo); é a condenação do contexto libertário da atitude de Sheba. É a imposição de um modelo moral ao resto do grupo, assim como uma reacção de natureza psicanalítica; a mãe reage de forma violenta porque sente que o filho lhe escapa, sente que o complexo de Édipo é naquele momento apenas uma memória distante; sente que perdeu o filho para outra mulher.
Mas, sejamos verdadeiros, qual é o homem heterossexual que não sonha, durante a adolescência, com uma situação como a que é retratada no filme? Quantas professoras não terão habitado os nossos sonhos, quantas mulheres mais velhas não terão estimulado a imaginação de modo decisivo para a construção de uma personalidade? Quem nunca tiver pecado, que atire a primeira pedra; ou então que aprove legislação que criminalize os nossos mais belos sonhos.

[Sérgio Lavos]

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