Há cada vez menos urgência em comunicar. O sensato seria remeter-me ao silêncio; não trairia assim a minha segunda natureza. Cabisbaixo, introvertido, de trato difícil. Cria-se uma verdade; habituo-me a ela; brinco com as possibilidades; invento outra personalidade; baralho e volto a dar, penso em regressar ao meu velho eu.
Mas exponho-me, eu sei. O que mais me impressiona - não é medo, nem vergonha - é a descoberta daqueles que me conhecem fora daqui. Imagino muitas vezes que olham para mim e vêem alguém diferente daquele que escreve. Não consigo ser vinte e quatro horas por dia eu próprio. Acontece bastante ler-me aqui e descobrir essa falha, esse rasgão na realidade, quase conseguindo vislumbrar o que está por detrás das palavras. Ah, mas a imaginação é bastarda; o mesmo passo que permite esse pequeno desfasamento da realidade ("time is out of joint"), também me leva a território conhecido. E o silêncio manda em mim quando aí entro - a língua é um intervalo no sentido, do mesmo modo que o som o é no silêncio. Mas falo da vida, essa coisa imitável que tantas vezes não coincide com a ideia que fazemos dela.
Há cada vez menos urgência em comunicar. Por isso talvez não entenda porque há ainda alguns que me lêem - é mentira, juro, é tudo um grande acaso, uma cadeia de acontecimentos sucedendo-se de forma aleatória. Aos que o fazem a sério, apenas posso prometer continuar a escrever sobre nada. Insisto.
Mas exponho-me, eu sei. O que mais me impressiona - não é medo, nem vergonha - é a descoberta daqueles que me conhecem fora daqui. Imagino muitas vezes que olham para mim e vêem alguém diferente daquele que escreve. Não consigo ser vinte e quatro horas por dia eu próprio. Acontece bastante ler-me aqui e descobrir essa falha, esse rasgão na realidade, quase conseguindo vislumbrar o que está por detrás das palavras. Ah, mas a imaginação é bastarda; o mesmo passo que permite esse pequeno desfasamento da realidade ("time is out of joint"), também me leva a território conhecido. E o silêncio manda em mim quando aí entro - a língua é um intervalo no sentido, do mesmo modo que o som o é no silêncio. Mas falo da vida, essa coisa imitável que tantas vezes não coincide com a ideia que fazemos dela.
Há cada vez menos urgência em comunicar. Por isso talvez não entenda porque há ainda alguns que me lêem - é mentira, juro, é tudo um grande acaso, uma cadeia de acontecimentos sucedendo-se de forma aleatória. Aos que o fazem a sério, apenas posso prometer continuar a escrever sobre nada. Insisto.
[Sérgio Lavos]
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