16/02/07

Hotel Memória

Jefferson Hayman Avenue


Perante o mais recente romance de João Tordo, Hotel Memória, devemos deixar de lado os preconceitos e fazer uma suspensão das crenças tradicionais quanto ao uso hiper-feminino do cor-de-rosa "esta coisa de olhares a contracapa de um livro e teres a fotografia do autor, a descrição sumária do enredo e da sua vida, quantos filhos tem e onde é que costuma jantar, torna tudo um bocadinho previsível"(p.35). Não julguemos a capa de um livro por critérios de cor mas também não esperemos uma surpresa porque este livro não surpreende quem lera o anterior Livro dos homens sem luz (Temas e Debates, 2004). João Tordo continua a possuir o ânimo de quem sabe contar bem uma história não escondendo as influências directas: como o anterior livro, Hotel Memória é inspirado de um modo claro, e por isso honesto, em Paul Auster e na incompreensão do poder que o acaso tem. João Tordo sabe manter a coerência numa narrativa comandada por relações livres entre factos e personagens, mantém a procura por determinadas atmosferas ficcionais oníricas e demenciais por onde caminham personagens perdidas ou em expiação, como o narrador, Ismael de Moby Dick ou um verdadeiro Bartleby luso.


"Quando a conheci já ela trabalhava para um morto. Soube-o mais tarde, mas só passados três anos fui capaz de descobrir as linhas invisíveis com que tudo se encontrava ligado" pág.9

Hotel Memória, QuidNovi, 2007, 224 p.

[Susana Viegas]

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