O tempo que tenho gasto na leitura de blogues foi roubado aos livros. A outras coisas, claro, de que não sinto falta, mas também aos livros. Ler um blogue, acelerado por um sentido de urgência que corre sempre o risco de desembocar no vazio, não poderá ser o mesmo que ler um livro. Ler um poema num ecrã de computador continua a ser um acto falhado: nunca conseguiremos capturar na perfeição a dimensão totalitária do poema. Se este está guardado num livro, aqui na estante mesmo ao lado, sei que a qualquer momento pode respirar. Estendo a mão, toco-lhe ao de leve, seguro-o com a pinça do polegar e do indicador e resgato-o do sono. Nem é preciso repetir a velha ideia: em cada leitura outro poema nasce, outro romance surge. Na internet existe uma disponibilidade intimidatória. O google pode ser ao mesmo tempo uma benção - se trabalhamos - ou uma maldição de um diabo qualquer da preguiça - se gastamos o tempo em inutilidades de base. Canso os olhos lendo um poema no ecrã, mas já quase não consigo escrever senão directamente no computador. Acedi ao apelo da modernidade e, derrotado, agora dedico-me principalmente ao prazer culpado da procrastinação blogosférica. Confundo leitura e escrita - talvez nunca tenha prestado atenção aos mestres. Mas se elas se misturam no que faço, porque não uni-las em texto?
Nunca um poema será lido num ecrã como o pode ser num livro. Sem a pressa do tempo pressionando o sopro de cada verso. Entre contradições e fraquezas, deixo que fiquem ali, ao alcance da mão, os meus poemas. Ganhando corpo até à próxima leitura.
Nunca um poema será lido num ecrã como o pode ser num livro. Sem a pressa do tempo pressionando o sopro de cada verso. Entre contradições e fraquezas, deixo que fiquem ali, ao alcance da mão, os meus poemas. Ganhando corpo até à próxima leitura.
[Sérgio Lavos]
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