Agora que a Islândia é ameaçada pela bancarrota e o Inverno se aproxima - a chuva voltou, e a boa disposição matinal com ela - será tempo de regressar aos Sigur Rós, ao fabuloso Aegetis Byrjun, o primeiro álbum.
É melhor não tentar pronunciar o nome da música, "Svefn-g-englar"; cantarolar também será complicado. A música destes islandeses é para se ouvir deitado na cama, enquanto a vida bate nas persianas corridas. Percorrer paisagens desconhecidas dentro de quatro paredes, permitir que a música flua como a água desabando lá fora.
Difícil é não cair no lugar comum quando se escreve sobre Sigur Rós - culpado, confesso. Extraordinariamente, o som que a banda produz é tudo menos regular, banal, quotidiano. Assim como os vídeos, nem que seja pela mística paisagem da ilha, pano de fundo ideal para devaneios poéticos e outras fraquezas - basta apontar a câmara às colinas de basalto, à turfa cinzenta, à erva que desponta nas encostas dos vulcões adormecidos. Mas este vídeo, dirigido por August Jacobsson, em colaboração com os próprios elementos da banda, vai mais longe, rasando a fronteira entre beleza pura e o puro mau gosto. A utilização de uma companhia de teatro composta por actores com Síndrome de Down poderia ser arriscada, pelo oportunismo ou coisa pior, mas o resultado final é comovente, pelo menos para gente que tem a corda da sensibilidade bem afinada.
Chuva calma, lá fora. A tempestade acabou.
[Sérgio Lavos]
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