Sem fôlego. A poesia de Herberto Helder deixa o leitor sem fôlego, extasiado, exaurido. Por isso, é difícil para quem escreve escrever depois de Herberto. Por isso, quem insiste na poesia ou admira e imita, fracamente, tristemente, ou foge à influência e recusa, odeia, desdenha. Terão sido poucos, os que têm escapado a esta dicotomia forçada: António Franco Alexandre, Luís Miguel Nava e Joaquim Manuel Magalhães. No caso deste último, a ruptura terá sido dolorosa; quem lê os ensaios de Magalhães percebe o deslumbre que a poesia de Herberto continuou a provocar nele. Mas a partida tinha de acontecer. Os descendentes poéticos perceberam mal a atitude de Joaquim Manuel Magalhães; aqueles que tresleram o seu verso do "regresso ao real" afirmam, sem pudor, que a poesia de Herberto não interessa. Interessa, e muito, e ninguém que afirme gostar de ler poesia poderá recusar a intensidade dos seus versos. Um poema de Herberto é, e peço ajuda a uma metáfora, um buraco negro, resplandecente, breve, destruindo toda a matéria em volta. A matéria que é engolida reclama, mas inutilmente. E, regressando ao real, é preciso ler Herberto para entender o que o mundo não é.
[Sérgio Lavos]
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