Talvez nestes últimos tempos tenha havido mais do que um assunto que me tenha despertado a atenção, de entre a modorra quotidiana de notícias que, diariamente, inunda os jornais. Poderia dispensar a ligeira constipação que se apoderou da última frase - não poderei afirmar seriamente que a arrogância de que essa frase está enferma não seja um defeito, mas administro, em doses homeopáticas, a arrogância a algumas coisas que faço.
Não queria desaguar aqui: aqui. Antes preferia continuar a falar dos assuntos que me interessaram e dos quais não falei. Deveria falar? Quando escrevo não falo, parece-me evidente, embora uma voz na minha cabeça me vá ditando coisas com as quais nem sempre concordo. Mas, é sério, deveria referir que isto ou aquilo me afectou profundamente, aquela coisa ou a outra me indignou apaixonadamente, um ou outro acontecimento me transformou de maneira decisiva? Tenho as minhas razões para me manter calado. A menor das quais é o desinteresse que isto possa ter para quem me lê. Mas, se me lêem, é porque tem interesse.
O principal motivo de orgulho, desde que fui silenciando o tribuno que habita em mim (5º esquerdo, ali mesmo ao pé do fígado), é a sensação de controlo de estragos, de higiene totalitária, que este blogue respira. Algumas recaídas quase que deitaram tudo a perder. Acessos súbitos de vaidade, tropeções mais ou menos públicos, alguma tosse inconsistente a meio da peça do silêncio que neste momento está em cartaz por estas bandas. Mas o tempo apaga tudo (menos as insistentes nódoas da tarte de mirtilos do verão passado). E tudo se esquece, ao sabor do vento que sopra os textos mais antigos lá para baixo (não espreitar, por favor). Cada vez mais penso - e não estou sozinho nesta demanda - que o ideal seria escrever sem dizer absolutamente nada (a dupla negativa aconselha-se). Sei que neste campeonato teria a concorrência de quase todos os colunistas que escrevem em jornais portugueses. Melhor, retiro o que afirmei na última frase. A maior parte da gente que escreve por aí diz tudo sem escrever absolutamente nada. De jeito. Sabe tudo sem saber realmente nada. E o realmente nada seria, neste caso, calar o impulso de ganhar uns cobres e deixar-se ficar sentado no silêncio, imaginando a neve que não cai lá fora, enquanto o mar desaba a sua impotência sobre a areia de um fim de tarde de verão.
Deixo em paz o colunista encostado ao doce cadeirão da improbabilidade poética, o malfadado colunista escrevendo o texto que leio com tal intensidade que no momento seguinte o esqueço, um suspiro nos lábios, agora não, que não me interessa. O tribuno grita. Vou ali amordaçá-lo, não quero discursar sobre nada que interesse minimamente ao eventual leitor deste texto. O momento seguinte, de libertação completa, me espera. (Utilizo o brasileirismo para não quebrar o ritmo da frase). E como quebrei o ritmo da frase, escrevo uma mais sem dizer nada. Respiro sobre a língua, e ela encolhe-se.
Não queria desaguar aqui: aqui. Antes preferia continuar a falar dos assuntos que me interessaram e dos quais não falei. Deveria falar? Quando escrevo não falo, parece-me evidente, embora uma voz na minha cabeça me vá ditando coisas com as quais nem sempre concordo. Mas, é sério, deveria referir que isto ou aquilo me afectou profundamente, aquela coisa ou a outra me indignou apaixonadamente, um ou outro acontecimento me transformou de maneira decisiva? Tenho as minhas razões para me manter calado. A menor das quais é o desinteresse que isto possa ter para quem me lê. Mas, se me lêem, é porque tem interesse.
O principal motivo de orgulho, desde que fui silenciando o tribuno que habita em mim (5º esquerdo, ali mesmo ao pé do fígado), é a sensação de controlo de estragos, de higiene totalitária, que este blogue respira. Algumas recaídas quase que deitaram tudo a perder. Acessos súbitos de vaidade, tropeções mais ou menos públicos, alguma tosse inconsistente a meio da peça do silêncio que neste momento está em cartaz por estas bandas. Mas o tempo apaga tudo (menos as insistentes nódoas da tarte de mirtilos do verão passado). E tudo se esquece, ao sabor do vento que sopra os textos mais antigos lá para baixo (não espreitar, por favor). Cada vez mais penso - e não estou sozinho nesta demanda - que o ideal seria escrever sem dizer absolutamente nada (a dupla negativa aconselha-se). Sei que neste campeonato teria a concorrência de quase todos os colunistas que escrevem em jornais portugueses. Melhor, retiro o que afirmei na última frase. A maior parte da gente que escreve por aí diz tudo sem escrever absolutamente nada. De jeito. Sabe tudo sem saber realmente nada. E o realmente nada seria, neste caso, calar o impulso de ganhar uns cobres e deixar-se ficar sentado no silêncio, imaginando a neve que não cai lá fora, enquanto o mar desaba a sua impotência sobre a areia de um fim de tarde de verão.
Deixo em paz o colunista encostado ao doce cadeirão da improbabilidade poética, o malfadado colunista escrevendo o texto que leio com tal intensidade que no momento seguinte o esqueço, um suspiro nos lábios, agora não, que não me interessa. O tribuno grita. Vou ali amordaçá-lo, não quero discursar sobre nada que interesse minimamente ao eventual leitor deste texto. O momento seguinte, de libertação completa, me espera. (Utilizo o brasileirismo para não quebrar o ritmo da frase). E como quebrei o ritmo da frase, escrevo uma mais sem dizer nada. Respiro sobre a língua, e ela encolhe-se.
[Sérgio Lavos]
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