(...) Sabes, eu acho que não tens razão. Acho que as pessoas se apercebem mesmo daquilo que são, daquilo que podem ser, daquilo que, no limite conseguem ser. O problema é que, no limite, nunca conseguem deixar de ser aquilo que são. E quase todas conseguem ser muito pouco, ou muito, mas mal. Podem disfarçar, querer passar por aquilo que não são, mas sabem que não são como pretendem ser. Pretender significa querer ser, mas também fingir. Ninguém usa uma máscara de forma inocente. Todos sentem o rosto verdadeiro por baixo. Os que não sentem, não chegam a saber o que são. Os que sentem, sofrem. Porque saber que se é uma coisa, apenas aquela coisa, e não se conseguirá nunca ser outra, apenas pretender, é, mais que uma dura pena, a consistência que mantém qualquer sociedade a funcionar. Funcionamos à custa de não sabermos corrigir o que que somos. Persistimos em ser, e não é um erro; a nossa natureza verdadeira é o erro, aquilo que a toda a hora corrigimos. Falhar? Falhar melhor? Nunca acertar, ou estatisticamente acertar mais vezes do que os outros. O único consolo que nos resta. (...)
[Sérgio Lavos]
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