À hora a que escrevo, certamente já perdemos 3-1 com a Itália (e vão 20 jogos seguidos) e seguramente não passa pela cabeça de ninguém despedir o treinador. À hora a que escrevo, apenas resta um candidato Republicano nas primárias americanas, John McCain, e dois Democratas, Hillary Clinton e Barack Obama. Não confirmo os factos, apesar de estes terem acontecido. Suponho, adivinho, especulo. Que é, aliás, algo que facilmente seduz. Tenta-se saber menos em que condições estão agora a viver as pessoas que foram despedidas no último ano em Portugal - apesar do interesse pontual de uma ou outra televisão à procura de miséria para transmitir em directo. Procura-se em menor grau perceber o que sucedeu às populações que viram as urgências encerradas nos últimos meses, que dificuldades têm no dia-a-dia, o que fazem quando precisam de cuidados de saúde imediatos. O que está feito, está feito, e a indignação dura o tempo que uma transmissão em directo demora, meia-dúzia de populares concentrados apenas interessa quando é para falar bem do Cristiano Ronaldo. A vertigem é tudo, e poderia pôr-me aqui a adivinhar o que neste momento acontece no mundo, que acabaria por acertar num ou noutro facto - as coisas repetem-se, entediadamente agrupando a totalidade dos dias.
Temos vivido vários momentos históricos, nos últimos meses. O encerramento das urgências, o crescimento da taxa de desemprego, a normalização do nepotismo, da corrupção, da vigarice pura e dura. O momento mais espectacularmente histórico dos últimos anos foi a ultrapassagem supersónica, por parte dos novos países na União Europeia, da velha caravela a que chamamos Portugal. Os buracos acumulam-se no porão, os ratos roem tudo, a água é mais que muita, mas alegremente continuamos a remar em busca de uma mirífica ilha que ora se chama convergência, ora riqueza nacional, ora progresso e bem-estar das populações - aquelas que vão ter filhos a Espanha, lembram-se? A culpa é dos carpinteiros que construiram o bote? Mas se já lá vão séculos, não seria tempo de comprar um meio de transporte mais moderno?
Somos bons em metáforas (um país de poetas, dizem), mas péssimos em gramática; óptimos a gastar dinheiro (telemóveis, casas, carros, férias), menos bons a tentar ganhá-lo da melhor maneira possível; temos os melhores patrões do mundo - apenas quando está em causa o seu próprio bolso. Dar o melhor pelo país, só se for no Second Life. Somos o mais descrente dos países católicos - pomos o nosso bem-estar sempre à frente do do próximo, pensamos viver cada dia como se não houvesse amanhã nem Deus para nos amparar no fim. Todos sabem diagnosticar a doença - devemos muito à hipocondria - mas ninguém consegue descobrir a cura. O doente (ou a nau, ou a jangada separada da Europa) vai morrendo aos poucos. Quem se apieda dele, e lhe oferece o golpe de misericórdia?
Aguardemos até ao próximo Europeu.
Temos vivido vários momentos históricos, nos últimos meses. O encerramento das urgências, o crescimento da taxa de desemprego, a normalização do nepotismo, da corrupção, da vigarice pura e dura. O momento mais espectacularmente histórico dos últimos anos foi a ultrapassagem supersónica, por parte dos novos países na União Europeia, da velha caravela a que chamamos Portugal. Os buracos acumulam-se no porão, os ratos roem tudo, a água é mais que muita, mas alegremente continuamos a remar em busca de uma mirífica ilha que ora se chama convergência, ora riqueza nacional, ora progresso e bem-estar das populações - aquelas que vão ter filhos a Espanha, lembram-se? A culpa é dos carpinteiros que construiram o bote? Mas se já lá vão séculos, não seria tempo de comprar um meio de transporte mais moderno?
Somos bons em metáforas (um país de poetas, dizem), mas péssimos em gramática; óptimos a gastar dinheiro (telemóveis, casas, carros, férias), menos bons a tentar ganhá-lo da melhor maneira possível; temos os melhores patrões do mundo - apenas quando está em causa o seu próprio bolso. Dar o melhor pelo país, só se for no Second Life. Somos o mais descrente dos países católicos - pomos o nosso bem-estar sempre à frente do do próximo, pensamos viver cada dia como se não houvesse amanhã nem Deus para nos amparar no fim. Todos sabem diagnosticar a doença - devemos muito à hipocondria - mas ninguém consegue descobrir a cura. O doente (ou a nau, ou a jangada separada da Europa) vai morrendo aos poucos. Quem se apieda dele, e lhe oferece o golpe de misericórdia?
Aguardemos até ao próximo Europeu.
[Sérgio Lavos]
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