05/02/08

Escrever torto

Não queria ter publicado neste blogue o texto que Dóris Graça Dias não chegou a ver publicado no Expresso. O tal texto. Aquele texto de opinião sobre o Rio das Flores, que misteriosamente foi recusado pelo director do Expresso himself sob o pretexto de "falta de qualidade". Ora, eu não queria ter publicado porque o texto nem é carne nem é peixe: não elogia nem desfaz a obra. É uma criancice amedrontada que, enquanto estava a ser escrita, já previa a polemicazinha futura. Um texto com medo de si próprio, que nem sequer se atreve a desmontar o romance de Miguel Sousa Tavares como ele merece, que não consegue mostrar o que aquilo verdadeiramente é: literatura de cordel, enfarta-brutos, um desastre ecológico a produzir-se em sucessivas edições em papel.
O respeitinho é muito, eu sei, mas pergunto: por onde andam os críticos com tomates, que não têm medo de pegar num romance popular e avaliá-lo sem usar pinças e luvas esterilizadas, por aquilo que ele é e não aquilo por aquilo que representa? À excepção de um texto do José Mário Silva para a Time Out, nada. Nicles. E ter sido dada alguma atenção ao romance de MST, já não foi pouco. Acabou por ter mais sorte que José Rodrigues dos Santos, por exemplo.
O que é lamentável é eu ter que dar razão à direcção do Expresso, sabendo que, caso a crítica tivesse sido feita com a atenção e competência devida, teria tido o mesmo destino que o texto de opinião inventado por Dóris Graça Dias. Miguel Sousa Tavares, transferido há não muito tempo do Público para o Expresso com um estrondo de estrela de futebol, não teria admitido tal afronta, desse por onde desse. E agora é vê-lo de beicinho estendido, lamentando a inveja dos mesquinhos que se atrevem a não gostar dele.
Será esta a Michiko Katukani que o país merece? Não se arranjará nada melhor?

(Ler, por favor, este texto que diz tudo o que deve ser dito, do Luís Rainha - que saudades eu tinha de o ler - no Cinco Dias)

[Sérgio Lavos]

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