14/09/07

O circo

É difícil fugir à perplexidade gerada pelo circo mediático que respondeu ao apelo do casal McCann. Os jornais e as televisões supõem. O povo supõe com eles, não há nada como a sua sabedoria nestas alturas. As conjecturas, se não fosse a estética televonelesca criada pela avassaladora tabloidização, poderiam dar um bom enredo policial, daqueles que motivam o espectador a resolver o caso. Enfim, não nos movemos em território de Agatha Christie, e será pouco sensível tentar jogar com um assunto tão sério. Ou não? Vasco Pulido Valente, que depois de alguns meses de pousio acerta em cheio novamente, inclina-se para a hipótese do "quem com ferro mata, com ferro morre". A verdade é mesmo esta: quem, reagindo ao desaparecimento de uma filha, telefona para a Sky News antes de chamar a polícia, revela uma de duas coisas, e a primeira é o horror absoluto, por isso prefiro pensar na segunda hipótese, aquela que VPV defende. O povo prefere achar a culpa antes de qualquer julgamento. Os McCann, conhecendo o risco, dispuseram-se ao jogo mediático.
Serão culpados? Já o são, no mínimo de insensatez e falta de sensibilidade. O que é intrigante, neste caso, é precisamente esta insensatez. Seria de pensar que um casal inglês, educado, com cultura e dinheiro, quisesse, acima de tudo, preservar do olhar de estranhos a dor pelo desaparecimento de uma filha. Por que razão decidiram abrir as portas da intimidade ao mundo? Para esconder algo ainda mais vergonhoso que a perda de um filho? A culpa, desse por onde desse, iria sempre persegui-los. Mas não precisavam do circo, a não ser que este servisse como cortina de fumo para algo ainda mais monstruoso.
E pronto, o meu julgamento está feito. É impossível fugir à virtualidade reinante.

[Sérgio Lavos]

1 comentário:

Anónimo disse...

Procuro-te, Tiago Galvão (autor do blog Diário).
Assunto de importância quase extrema para o bem e para o mal deste país.
Contacta-me para o email ricardomicosta@hotmail.com