Desde que saiu, o livro Portugal, Hoje: o Medo de Existir tem resistido a ser lido de uma forma crítica que contrarie a tese central de José Gil. Há muito texto escrito sobre o assunto, mas nenhum que refute de modo convincente as ideias e argumentos desenvolvidos no livro.
O último esforço é de uma ensaísta estimável, Silvina Rodrigues Lopes, na revista Intervalo, como Henrique Fialho dá conhecimento aqui.
Não li o texto da revista, mas pelo que é citado a ensaísta revela mais temeridade do que aqueles que a precederam. Não sei (ou sei, mas enfim), contudo, se um texto de revista consegue atingir a complexidade que se pode alcançar num ensaio de quase 200 páginas, como é o caso da obra de José Gil. Esqueçamos a redundância e estilo de escrita deleuziano de Gil, a circularidade do pensamento, regressando constantemente ao ponto de partida para acrescentar uma ideia mais ao que já foi escrito; o problema é a armadilha retórica que a tese que está subjacente à ideia de não-inscrição levanta - a verdade é que o livro vendeu o que vendeu (e mais, foi efectivamente lido) em consequência de uma leitura complementar à tese da não-inscrição: o problema da inveja. O português (e sim, generalizo) adora ver-se retratado de forma negativa. O livro de José Gil, produzindo um juízo redutor sobre a portugalidade, colheu leitores por todo o lado. A prova mais sólida das teses de José Gil é o facto de o livro ter vendido tanto. O medo de existir não é apenas um excelente slogan. É a prova de um facto, a confirmação de uma ideia de senso comum, de um sentir acerca de nós próprios. Complexificar este senso comum sempre foi a tarefa dos filósofos. A conversa de café transformada em língua escrita é, portanto, o maior mérito de José Gil. E acredito que a obra tenha não só servido de espelho para quem a lê, mas também ajudado a perceber, de uma forma mais profunda, o que podemos fazer para transcender a imagem que o espelho devolve.
Mas convençam-me de que as poucas reacções epidérmicas que se fizeram ouvir contra o livro são mais do que uma prova da tese secundária do ensaio: a inveja como fundamento da portugalidade. Basta ler um pouco do texto de Silvina Rodrigues Lopes para se perceber isso: a insistência na explicitação do destaque dado a José Gil pela revista Nouvel Observateur é um achado em termos de comprovação da tese do filósofo:
«1. a televisão é cada vez mais o lugar do sensacionalismo, e é como tal que recebe um livro que vem de um autor recentemente apresentado numa selecção de «25 grandes pensadores do mundo inteiro» (de e não dos) feita pelo Nouvel Observateur, apresentação que a notícia dada por um jornal português, o JL, converteu, primeiro (5/01/05) em «um dos “25 grandes pensadores do Mundo”» e em seguida (19/01/05) em «José Gil é considerado pelo Nouvel Observateur um dos “25 pensadores mais importantes do mundo inteiro”».
Inveja, disseram? É apenas uma ideia...
O último esforço é de uma ensaísta estimável, Silvina Rodrigues Lopes, na revista Intervalo, como Henrique Fialho dá conhecimento aqui.
Não li o texto da revista, mas pelo que é citado a ensaísta revela mais temeridade do que aqueles que a precederam. Não sei (ou sei, mas enfim), contudo, se um texto de revista consegue atingir a complexidade que se pode alcançar num ensaio de quase 200 páginas, como é o caso da obra de José Gil. Esqueçamos a redundância e estilo de escrita deleuziano de Gil, a circularidade do pensamento, regressando constantemente ao ponto de partida para acrescentar uma ideia mais ao que já foi escrito; o problema é a armadilha retórica que a tese que está subjacente à ideia de não-inscrição levanta - a verdade é que o livro vendeu o que vendeu (e mais, foi efectivamente lido) em consequência de uma leitura complementar à tese da não-inscrição: o problema da inveja. O português (e sim, generalizo) adora ver-se retratado de forma negativa. O livro de José Gil, produzindo um juízo redutor sobre a portugalidade, colheu leitores por todo o lado. A prova mais sólida das teses de José Gil é o facto de o livro ter vendido tanto. O medo de existir não é apenas um excelente slogan. É a prova de um facto, a confirmação de uma ideia de senso comum, de um sentir acerca de nós próprios. Complexificar este senso comum sempre foi a tarefa dos filósofos. A conversa de café transformada em língua escrita é, portanto, o maior mérito de José Gil. E acredito que a obra tenha não só servido de espelho para quem a lê, mas também ajudado a perceber, de uma forma mais profunda, o que podemos fazer para transcender a imagem que o espelho devolve.
Mas convençam-me de que as poucas reacções epidérmicas que se fizeram ouvir contra o livro são mais do que uma prova da tese secundária do ensaio: a inveja como fundamento da portugalidade. Basta ler um pouco do texto de Silvina Rodrigues Lopes para se perceber isso: a insistência na explicitação do destaque dado a José Gil pela revista Nouvel Observateur é um achado em termos de comprovação da tese do filósofo:
«1. a televisão é cada vez mais o lugar do sensacionalismo, e é como tal que recebe um livro que vem de um autor recentemente apresentado numa selecção de «25 grandes pensadores do mundo inteiro» (de e não dos) feita pelo Nouvel Observateur, apresentação que a notícia dada por um jornal português, o JL, converteu, primeiro (5/01/05) em «um dos “25 grandes pensadores do Mundo”» e em seguida (19/01/05) em «José Gil é considerado pelo Nouvel Observateur um dos “25 pensadores mais importantes do mundo inteiro”».
Inveja, disseram? É apenas uma ideia...
[Sérgio Lavos]
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