25/09/07

Virtualidades

Confesso que já escrevi um ou outro post em que falei de textos em blogues sem me referir directamente aos seus autores. Em tom de desabafo, quase sempre; no momento. Haverá maior irresponsabilidade do que manter um blogue? Não sobrevalorizemos o feito. Não temos de ser responsáveis, mas a sensatez fica sempre bem num homem. Como assino com o meu nome verdadeiro, assumo perante mim a obrigação de ser sempre verdadeiro - ainda que nem sempre de maneira séria.
Com o tempo, é claro que me apercebi que nem a pressa nem a perfeição são aconselháveis. Mas, de entre as duas, deveremos ter mais cuidado com a primeira. Por isso, deixei de me incomodar com as pequenas irritações que de vez em quando surgem - e, saudavelmente, deixei de ler com regularidade blogues políticos. Essa gente com que deparamos na rua a impingir panfletos ou a dizer mal dos nossos políticos encontrou um asilo catita na blogosfera e nas caixas de comentários. Honra lhes seja feita, conseguem quase sempre acicatar os pretensos democratas que por aí proliferam - que, ao mínimo democrático insulto, se insurgem contra o lixo.
Mas, disperso-me. E caio no erro de falar de pessoas sem explicitar nomes; mas tenho desculpa, falo de um modo geral, e no geral ninguém me conhece. Imito o que leio por aí, sou irresponsável.
No fundo, desresponsabilizo aqueles de quem falo, impossibilitados como estão de responder directamente.
Confesso, portanto, que por vezes exigo ao que escrevo que seja menos livre do que deveria ser. A liberdade de pensamento nem sempre é compatível com o convívio entre pessoas. Mesmo que os nossos convidados sejam apenas mais um nó da rede, à distância, uma palavra escrita num ecrã. Até as nossas virtualidades exigem o respeito que devemos a nós próprios.

[Sérgio Lavos]

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