O escritor alemão morreu há dez anos, num acidente de carro perto de Norwich. George Whitman é seguramente menos conhecido. Americano expatriado, amigo da geração beat, fundador da mais bela livraria do mundo, a Shakespeare and Company. Tinha noventa e oito anos, e, até ao dia derradeiro, leu. Whitman era uma relíquia de outros tempos e a livraria que ele criou, em 1951 (primeiro com um nome de mulher, Mistral, o seu primeiro amor), uma ilha no meio do negro mar em que se vai transformado o negócio dos livros. Tratar o livro como mais do que um objecto que passa de mão em mão a troco de dinheiro é um luxo em vias de extinção. Entrar numa livraria e não sermos invadidos por uma maré de produtos a que, por comodismo, se convenciona chamar "livro", uma raridade.
Sebald era também um bibliófilo. Um amante do conhecimento. O acaso quis que os dois morressem no mesmo dia, dez anos a separar as duas mortes. Por conveniência do destino, um epitáfio comum, de dois homens que talvez se tivessem conhecido e que certamente terão muito a conversar, caso se reencontrem. Num mundo onde as conveniências dos tecnocratas se tornaram lei, é preciso celebrar gente assim. Nunca foram muitos. Vão sendo cada vez menos. Os resistentes.
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