12/12/11

FCSH 1993

Lembro-me dele,
dormindo na última fila de Inglês I,
recuperando as horas perdidas
na Feira da Ladra das quintas,
vendendo discos, CD's, cassetes de vídeo porno.

Por vezes, acordava e dizia qualquer coisa
vagamente sábia - era mais velho do que a maioria,
voltara aos estudos, como então se dizia,
mas trabalhava, trabalhava como poucos de nós -

precisávamos de estar por ali, faltando à faculdade,
fumando cigarros no pátio onde alguns anos depois montaram uma feia
esplanada com cadeiras de plástico e chapéus de sol veraneantes,
precisávamos de sair
ir à Gulbenkian, deitar na relva
esticados ao sol, olhando o tempo retroceder por força da inércia,
e depois ler todos os livros de que não precisávamos,
sem subversão nem revolução, apenas
alguma preguiça, ter um livro para ler
e não o fazer, dormir até ser tarde demais,
adiar a derrota -

e ele andava a comprar discos para os vender
na Feira e a alguns de nós nas aulas.

Por vezes, eu visitava a banca, aos Sábados,
comprava-lhe bandas, músicas, motivos
para esquecer, gostos emprestados.

Ainda estão para ali, e ouço-os talvez mais
do que ouvia na altura.

Anos depois, soube que se tinha
perdido numa estrada a caminho do Sul,
uma curva, um metro a mais, desolação.

A morte é a memória de um rosto
que se vai perdendo, um breve relâmpago.

Uma banalidade tremenda.
Vale a pena?

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