Aqueles cinco anos, dediquei-os a esquecer
os dezoito anteriores. Uma questão de prioridades,
ou essa coisa de construir a personalidade
de que os manuais de psicologia falam.
Não sabia ser, talvez o que queria.
Os encontros e a fortuna fizeram o resto:
bastaram alguns meses para ter um rosto
que se distinguisse da multidão, o pormenor
que eu julgava ser diferente.
A roupa, a pose, e a poesia.
Uma imagem a defender em acaloradas discussões,
becos sem saída, e na dobra
dos dias um amor que recusava a sua
natureza provisória.
O fulgor da provisão e do engano,
rebater argumentos recusando ler
mais do que os livros da moda,
uma vontade de poder frágil
como a vida de um vitelo recém-nascido.
Mas a força, ah, a força da ignorância.
Não saber o que o dia traz,
o seu declínio, era imparável.
A imortalidade na ponta dos dedos
que agarravam a manhã nascendo, o álcool
refazendo o seu percurso,
cumprindo a sua missão,
permitindo o esquecimento.
Foram cinco anos que se multiplicaram
pelo corpo dentro; não soube reconhecer
a primeira derrota. Todas as que se seguiram
trouxeram uma nova forma de evitar a vida:
escrever sobre ela, como se eu não lhe pertencesse,
um fantasma correndo sobre a tela.
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