Lars von Trier conseguiu. Outra vez. Criar um mastodonte pretensioso, caricato e obcecado com o seu próprio umbigo. Melancolia é tudo isto em tons sépia, como convém num filme sobre o fim do mundo - ou lá o que é -, uma obra sobre cortar os pulsos que quase nos impele a isso. Desprovido de subtilezas - mas o realizador nunca se preocupou com isso -, repetindo temas anteriores, um grito na cara do espectador com a densidade filosófica do correio sentimental da revista Maria.
Em tempos, gostei de Ondas de Paixão - mas admito que, se eu o revisse, talvez mudasse de opinião. Dogville é excelente, por conseguir chegar a um nível de abstracção que o transforma num objecto que reflecte sobre a sua própria importância, um ensaio metaficcional sobre o mal e as suas consequências, uma obra conceptual sobre os limites da artificialidade e do naturalismo da representação cinematográfica. O contrário de Dogville é Melancolia: indigesto e farto, depósito de citações de pintores - Pré-Rafaelitas, Românticos alemães -, uma espécie de paródia involuntária ao cinema da contemplação metafísica - como se fosse um Malick de quinta categoria ou um Tarkovsky superficial, sem espessura - e manifesto da neurose pessoal do realizador dinamarquês. Só se safa mesmo Kirsten Dunst, que parece ter conseguido fazer melhor figura que outras mártires do cinema de von Trier, como Björk ou Charlotte Gainsbourg (fraquíssima, o que é uma pena tendo a conta a linhagem da qual descende).
A polémica do último festival de Cannes - o elogio provocatório e infantil a Hitler - é uma nota de rodapé, perante o desastre preguiçoso e auto-contemplativo que é Melancolia. Prémio de Melhor Filme Europeu do Ano? Não quero saber quem seriam os outros concorrentes...
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