Exm.º Sr.
recebemos com mui agrado a obra que nos propôs para publicação, e a ela dedicámos atenção e tempo que julgámos ser necessário à fruição devida.
O começo de uma intensa pujança colocou-nos logo de sobreaviso. Longas horas de deleite esperavam por nós, não ouse julgar o contrário, e a perfeita singeleza daqueles primeiros versos não deixavam lugar para dúvidas. Avançámos com confiança e a cada nova estrofe o espanto e a admiração cresciam em nossos corações, tal o labor e a perícia, dignos de um Virgílio ou de um Dante, que sua excelência demonstrava; o ritmo, o labor da construção, a exaltação heróica de um povo, a intromissão da mão divina nos assuntos terrenos, o modo como intercala os mundos conhecidos e os desconhecidos, todos estes predicados nos foram entretendo em tal enlevo que nos fomos mantendo acordados, durante horas e horas de puro prazer estético.
Não chegou uma leitura apenas, confessamos; aquelas páginas, ali pousadas sobre a mesa, continuavam a clamar por nós. Depois de duas leituras, decidimos, no entanto, não ir além com a publicação. Como já deve ter percebido, não se trata daqueles casos muito comuns de recusa por falta de qualidade literária, qualidade que na sua obra é, de resto, indiscutível; mas talvez – e isto se calhar vai parecer-lhe estranho – de um excesso de qualidade; ou seja, cremos que, apesar de a temática da obra ser extremamente actual, a estrutura e a linguagem adoptadas dificultam frequentemente a compreensão da história, fazendo com que o livro não possa ser compreendido no seu todo por um público que não seja suficientemente culto e sofisticado. Talvez as gentes deste tempo não estejam preparadas para um tal avanço nas letras. Como tal, lamentamos o incómodo e agradecemos a profunda emoção provocada em nós pelas páginas por si escritas. Aconselhamos a guardar como o mais rico tesouro a obra que escreveu, para que as gerações vindouras possam descobrir tal manuscrito e assim maravilhar-se com uma relíquia perdida da literatura.
Muito respeitosamente nos assinamos,
recebemos com mui agrado a obra que nos propôs para publicação, e a ela dedicámos atenção e tempo que julgámos ser necessário à fruição devida.
O começo de uma intensa pujança colocou-nos logo de sobreaviso. Longas horas de deleite esperavam por nós, não ouse julgar o contrário, e a perfeita singeleza daqueles primeiros versos não deixavam lugar para dúvidas. Avançámos com confiança e a cada nova estrofe o espanto e a admiração cresciam em nossos corações, tal o labor e a perícia, dignos de um Virgílio ou de um Dante, que sua excelência demonstrava; o ritmo, o labor da construção, a exaltação heróica de um povo, a intromissão da mão divina nos assuntos terrenos, o modo como intercala os mundos conhecidos e os desconhecidos, todos estes predicados nos foram entretendo em tal enlevo que nos fomos mantendo acordados, durante horas e horas de puro prazer estético.
Não chegou uma leitura apenas, confessamos; aquelas páginas, ali pousadas sobre a mesa, continuavam a clamar por nós. Depois de duas leituras, decidimos, no entanto, não ir além com a publicação. Como já deve ter percebido, não se trata daqueles casos muito comuns de recusa por falta de qualidade literária, qualidade que na sua obra é, de resto, indiscutível; mas talvez – e isto se calhar vai parecer-lhe estranho – de um excesso de qualidade; ou seja, cremos que, apesar de a temática da obra ser extremamente actual, a estrutura e a linguagem adoptadas dificultam frequentemente a compreensão da história, fazendo com que o livro não possa ser compreendido no seu todo por um público que não seja suficientemente culto e sofisticado. Talvez as gentes deste tempo não estejam preparadas para um tal avanço nas letras. Como tal, lamentamos o incómodo e agradecemos a profunda emoção provocada em nós pelas páginas por si escritas. Aconselhamos a guardar como o mais rico tesouro a obra que escreveu, para que as gerações vindouras possam descobrir tal manuscrito e assim maravilhar-se com uma relíquia perdida da literatura.
Muito respeitosamente nos assinamos,
(assinatura ilegível)
[Sérgio Lavos]
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