As primeiras cerejas, chegaram. Não vale a pena lamentar o fim do hábito de esperar pela fruta da época; continuemos a fingir que durante o ano inteiro não foi possível encontrar cerejas à venda.
Em Berlim, bancas de fruta e legumes encontram-se nas estações de metro, nos terminais de comboios; por trás da banca, raparigas polacas ou ucranianas vigiam quem passa e esperam que quem passe pare e compre os morangos, os espargos, as cerejas. Meio quilo custa quatro euros - muito mais do que por cá, contrariando a tendência de preços da cidade. O ruído dos comboios, contínuo (passa um de dois em dois minutos), o movimento das pessoas, mais lento do que se poderia esperar, as raparigas de olhos azuis vincados pelo excesso de maquilhagem remexendo na fruta, acondicionando os montes, colocando as maçãs dentro dos sacos, moeda passada de mão em mão.
E as cerejas, brilhando sobre tudo; uma rapariga de lábios da cor da cereja que trinca, relógio da estação no meio-dia, o barulho de um comboio a parar.
Há um ritmo certo para as estações; um ciclo natural para as cerejas. Em Maio, as mãos das raparigas esperam que o tempo curto a que a cereja tem direito seja prolongado para além do razoável. Mas nenhum artesanato pode contra a decadência da casca, da carne, o cheiro a podre que virá. Dentro de alguns horas, a estação fecha, o resto das cerejas vai para o lixo, a rapariga parte no último comboio da noite. Terá de ser assim.
Em Berlim, bancas de fruta e legumes encontram-se nas estações de metro, nos terminais de comboios; por trás da banca, raparigas polacas ou ucranianas vigiam quem passa e esperam que quem passe pare e compre os morangos, os espargos, as cerejas. Meio quilo custa quatro euros - muito mais do que por cá, contrariando a tendência de preços da cidade. O ruído dos comboios, contínuo (passa um de dois em dois minutos), o movimento das pessoas, mais lento do que se poderia esperar, as raparigas de olhos azuis vincados pelo excesso de maquilhagem remexendo na fruta, acondicionando os montes, colocando as maçãs dentro dos sacos, moeda passada de mão em mão.
E as cerejas, brilhando sobre tudo; uma rapariga de lábios da cor da cereja que trinca, relógio da estação no meio-dia, o barulho de um comboio a parar.
Há um ritmo certo para as estações; um ciclo natural para as cerejas. Em Maio, as mãos das raparigas esperam que o tempo curto a que a cereja tem direito seja prolongado para além do razoável. Mas nenhum artesanato pode contra a decadência da casca, da carne, o cheiro a podre que virá. Dentro de alguns horas, a estação fecha, o resto das cerejas vai para o lixo, a rapariga parte no último comboio da noite. Terá de ser assim.
[Sérgio Lavos]
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