Comprei o Diário de Etty Hillesum (editado pela Assírio & Alvim) por razões que nada têm que ver com as razões de muitos dos que compram (ou vão comprar) o livro. O que me atraiu na história desta judia holandesa vítima da perseguição nazi na Segunda Mundial foi o sentido absoluto de purificação do corpo para redimir os pecados da alma. O diário evolui de um registo entre a nevrose aguda e um deslumbramento com as propriedades mágicas do desejo sobre o corpo para um conjunto de meditações sobre um despojamento apoiado numa crença que não admite a dúvida. O Deus de Etty é verdadeiro porque lhe permitiu reencontrar um caminho no interior do caos; ela recusou a fuga, entregou-se ao sacrifício, por razões tudo menos espirituais (como sucedeu com Santo Agostinho). Que o tenha feito durante um período no qual o tempo humano se suspendeu, reforça a força da sua entrega. No coração do seu fervor místico, da sua loucura religiosa, pulsava a humanidade no seu estado sublimado. Será talvez por isto que conseguimos sobreviver ao Holocausto.
[Sérgio Lavos]
[Sérgio Lavos]
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