02/05/08

Maio de 08

Os tempos nunca foram tão bárbaros para a juventude inquieta a que cada geração tem direito. Faltam causas, é verdade. Sobra materialismo e mil e um gadgets para consumir. Imagine-se, os ideais até se podem comprar no e-bay, enquanto se espera que acabe de descarregar aquele álbum daquela banda que alguém ouviu e acha que daqui a seis meses vai ser ouvida por toda a gente que não está na onda.
Instantaneidade e simultaneidade. Tudo agora e várias coisas ao mesmo tempo - menos o sexo, claro, que os delírios de Zabriskie Point já foram há quarenta anos.
Por isso, a juventude de agora, que tem tudo menos carreira, casa e uma perspectiva estável de futuro, alegremente é alimentada pela teta dos pais de 75, que nada querem fazer para deixar de ser os salvadores de um país perdido no nevoeiro do fascismo.
O problema, caro Watson, é claramente este: isso tudo de que falam, precariedade, desemprego pós-licenciatura, novas oportunidades falhadas, desânimo, depressão e horror com pipocas à mistura é um eterno sonho de uma outra juventude: a dos nossos pais, que com todo o amor do mundo desejam que bem estar, paz, pão e liberdade sejam, não uma escolha dos seus filhos, mas o leite da teta que caridosamente oferecem. Não há uma única solução viável para acabar com o labirinto da falta de escolha que se apresenta a esta geração porque a vontade desapareceu há muito; os pais desta geração puxam a rédea de cada vez que ela se tenta libertar, em perpétuo movimento reaccionário. O resultado de uma revolução sem sangue é uma juventude sem pinga de sangue nas veias.
Independência ou morte? Morte a longo prazo, como o lume de uma vela a extinguir-se (enquanto se ouvem as palavras de uma rock star cantando o oposto).

[Sérgio Lavos]

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