Por vezes, a distância entre língua falada e língua escrita esbate-se. Ou, no mínimo, intuímos em determinadas situações este esbatimento.
Mário de Carvalho, na entrevista que deu ao Ipsilon na passada sexta-feira, é um exemplo deste encontro entre discurso oral e discurso escrito. Dito de outro modo, ele fala como escreve, ou pelo menos usa o mesmo rigor ao falar que usa na escrita. As mesmas ideias claras, a ironia mais ou menos amarga, a seriedade pontual, quando o assunto assim obriga. A afirmação que faz, no sentido de, a cada livro, procurar a diferença, é um reflexo destas variações entre o humor subtil e o sarcasmo que revela nas entrevistas que dá. A sua obra confirma isto: os livros sérios alternam com as obras que se aproximam da sátira de costumes ou do retrato bairrista ao estilo de Dinis Machado; no entanto, o rigor na construção da língua, no entretecer da gramática, o estilo de pendor clássico - não é de forma displicente que ele refere Padre António Vieira como antecessor inultrapassável - não muda de livro para livro. Reconhecemos as marcas, o cuidado e o prazer que nasce da forma pura; a língua revelando as suas estruturas mais complexas.
Não há cedências, repetição, cair nas armadilhas de uma Obra, comércio a retalho disfarçado de literatura; talvez por isso o homem que fala com jornalistas (e que eu já tive o prazer de ouvir falar em conferências) é o mesmo que escreve, sem pose a manter ou imagem a criar. Se a literatura não é a realidade, pode, em raros casos, em casos de génio, ser verdade. Não estarei longe de uma verdade se disser que Mário de Carvalho é o nosso escritor mais importante - o grande que poderá respeitar a herança dos nomes citados na entrevista: Pessoa, Padre António Vieira, Fernão Lopes, Eça de Queirós. Longe do brilho fátuo das eminências pardas que a cada livro se põem em bicos de pés para a eternidade. Os livros, como diz o lugar-comum, falam por ele.
Mário de Carvalho, na entrevista que deu ao Ipsilon na passada sexta-feira, é um exemplo deste encontro entre discurso oral e discurso escrito. Dito de outro modo, ele fala como escreve, ou pelo menos usa o mesmo rigor ao falar que usa na escrita. As mesmas ideias claras, a ironia mais ou menos amarga, a seriedade pontual, quando o assunto assim obriga. A afirmação que faz, no sentido de, a cada livro, procurar a diferença, é um reflexo destas variações entre o humor subtil e o sarcasmo que revela nas entrevistas que dá. A sua obra confirma isto: os livros sérios alternam com as obras que se aproximam da sátira de costumes ou do retrato bairrista ao estilo de Dinis Machado; no entanto, o rigor na construção da língua, no entretecer da gramática, o estilo de pendor clássico - não é de forma displicente que ele refere Padre António Vieira como antecessor inultrapassável - não muda de livro para livro. Reconhecemos as marcas, o cuidado e o prazer que nasce da forma pura; a língua revelando as suas estruturas mais complexas.
Não há cedências, repetição, cair nas armadilhas de uma Obra, comércio a retalho disfarçado de literatura; talvez por isso o homem que fala com jornalistas (e que eu já tive o prazer de ouvir falar em conferências) é o mesmo que escreve, sem pose a manter ou imagem a criar. Se a literatura não é a realidade, pode, em raros casos, em casos de génio, ser verdade. Não estarei longe de uma verdade se disser que Mário de Carvalho é o nosso escritor mais importante - o grande que poderá respeitar a herança dos nomes citados na entrevista: Pessoa, Padre António Vieira, Fernão Lopes, Eça de Queirós. Longe do brilho fátuo das eminências pardas que a cada livro se põem em bicos de pés para a eternidade. Os livros, como diz o lugar-comum, falam por ele.
[Sérgio Lavos]
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