27/04/08

A herança

Levaremos com setenta vezes sete anos de PS, quem quer que seja o futuro líder do PSD. E a culpa, lamentável, não será de MFL, ou PPS, ou até de PSL. A culpa é, não há outra maneira de dizê-lo, de Cavaco. Esse que numa semana assobia para o lado perante o tiranete Jardim e na seguinte afirma que as novas gerações - aquelas que sofrem na pele as consequências de dez anos de cavaquismo - não se interessam pela política, pelos políticos e pela história de Portugal. Curiosamente, a candidata Manuela Ferreira Leite, quando pertenceu ao governo liderado por Cavaco, ocupou um cargo que, ouvi dizer, tem alguma preponderância na hipotética sabedoria da juventude. Pois, parece-me que o facto de ignorância ser uma palavra que poucos jovens conseguem escrever correctamente pode ser uma consequência directa de dez anos entretidos com assuntos tão elevados como o financiamento do Ensino Superior pelo bolso dos portugueses ou os cortes nas bolsas de investigação para pós-graduados; em desprimor da simples educação das questões essenciais da vida: quem somos? De onde vimos? Quem nos governa? E será que merece governar-nos?
O despudor beatífico com que Cavaco assobia para o lado, como se tivesse vindo de um planeta distante para se tornar presidente de todos os portugueses e tivesse deparado com um mundo desconhecido e estranho aos seus hábitos, se não fosse tão repugnante, seria quase digno de um Oscar. E é esta a figura que a direita idolatra.
O problema de Salazar não foi a ditadura de 48 anos; os filhos, legítimos e bastardos, que deixou por aí, são a praga que teremos de suportar sabe-se lá até quando. Para quando a morte, definitiva, do Pai?

[Sérgio Lavos]

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