Não há apenas uma porta de entrada em Uma Segunda Juventude, de Coppola, mas corremos o risco de entrar pela porta errada. A imperfeição do filme poderá ser um obstáculo difícil de transpor, mas mais difícil do que isso será a exigência de um regresso em grande do melhor realizador americano da sua geração.
É difícil contornar a série dos Padrinhos, muito menos Apocalypse Now; mas desde aí que Coppola procura encontrar algo que contradiga os seus filmes mais populares, e isso é sempre um risco. Mas apesar da dificuldade em gostar de One From The Heart e de Jack, por exemplo, o charme de Peggy Sue Casou-se ou de Os Marginais torna-se indiscutível. Sem falar de Dracula, claro, primeira filiação deste filme que adapta uma obra de Mircea Eliade.
O gosto pelo barroco oriental, pelo exagero formal e exibicionista, mas também pelo cinema de um tempo anterior à entrada na indústria, tudo marcas de autor assinaláveis. Se Peggy Sue acaba por ser uma reconstituição plástica dos anos 50, o que verdadeiramente interessa ao realizador, nesse filme, é a temática do tempo irrecuperável. Contrariando Proust, o passado não se pode mudar nem recuperar, materialmente ou através da memória. O interesse pelas filosofias orientais que Coppola demonstra em Uma Segunda Juventude não é apenas circunstancial; a ideia de reencarnação, de um ciclo de vida que se sucede a outro, completa o que tinha sido ensaiado em Peggy Sue e continuado em Dracula, com a sua eternidade entediada, cansada de si própria. Se Dominic Matei, o linguista a quem é dada uma segunda oportunidade de modo a que possa terminar a sua obra - e diga-se que a obra poderia ser a "Obra", com maiúscula, o encontro com Deus no sentido em que descobrir o princípio da Humanidade é encontrar Deus -, morre como Robert Walser, ele vive como a figura do vampiro, amaldiçoado pela benesse da eternidade. A rosa que segura no final, alquímica e símbolo de vida, nasce no momento em que tudo parece terminar - simbologia a descodificar, que ninguém parece ter entendido.
O gosto pelo barroco oriental, pelo exagero formal e exibicionista, mas também pelo cinema de um tempo anterior à entrada na indústria, tudo marcas de autor assinaláveis. Se Peggy Sue acaba por ser uma reconstituição plástica dos anos 50, o que verdadeiramente interessa ao realizador, nesse filme, é a temática do tempo irrecuperável. Contrariando Proust, o passado não se pode mudar nem recuperar, materialmente ou através da memória. O interesse pelas filosofias orientais que Coppola demonstra em Uma Segunda Juventude não é apenas circunstancial; a ideia de reencarnação, de um ciclo de vida que se sucede a outro, completa o que tinha sido ensaiado em Peggy Sue e continuado em Dracula, com a sua eternidade entediada, cansada de si própria. Se Dominic Matei, o linguista a quem é dada uma segunda oportunidade de modo a que possa terminar a sua obra - e diga-se que a obra poderia ser a "Obra", com maiúscula, o encontro com Deus no sentido em que descobrir o princípio da Humanidade é encontrar Deus -, morre como Robert Walser, ele vive como a figura do vampiro, amaldiçoado pela benesse da eternidade. A rosa que segura no final, alquímica e símbolo de vida, nasce no momento em que tudo parece terminar - simbologia a descodificar, que ninguém parece ter entendido.
[Sérgio Lavos]
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