Quando pego num livro, não sei em que circunstância ele foi escrito. Não é necessariamente mau, chega a ser, quase sempre, uma coisa boa. Não me interessam os pormenores biográficos, exceptuando um ou outro autor - a única biografia que li terá sido a de Bruce Chatwin escrita por Nicholas Shakespeare, e por razões que me parecem sempre desajeitadas; achava a vida dele mais interessante do que a obra, o que, como sabemos, é mentira; a sua vida é um pálido reflexo da vida que ele criou para o narrador dos seus livros de viagem. Curiosamente, por vezes chamam esse narrador de Bruce.
À noite, quando leio blogues, redondeio por lugares solitários; os blogues da insónia, os desesperados que noite fora escrevem e publicam e apagam esperando ou que a exaustão os derrube ou que um sinal de Deus se manifeste nas ténues letras que piscam no ecrã. Os aforistas, os sofredores, os poetas. Imagino onde eles estavam antes, antes do prazer onanista do publish post. Os cadernos cheios de palavras que nunca ninguém lia. Quando um livro me chega às mãos, é um objecto terminado, a que se perdeu o rasto de vida que o animava enquanto estava a ser escrito. Depois de inúmeros rascunhos, reescritas, horas caindo sobre as folhas, o romance, o ensaio, o livro de poesia, respira independente do criador, e é de quem o lê, o criador simplesmente o esquece - e com alívio. Portanto, o livro esqueceu todos os dias em que foi sendo escrito, as horas, o tempo lá fora, as dores do quotidiano, as agruras normais da vida; é seco, estéril; sobretudo, distanciado e cínico. Os bloguers, pelo contrário, despejam o dia sobre o mundo. A ficção da biografia, uma realidade mediada pela urgência da comunicação. O escritor publicado pensa em livrar-se rapidamente do livro que escreveu; o bloguer alimenta o monstro, se necessário for, até à eternidade. Um trabalho em progresso que oscila entre o horror do fim e o terror do vício maldito. Até que um dia, a coragem acerca-se. E o publish deixa de ser o derradeiro kick do dia.
O sono torna-se um visitante habitual da noite.
À noite, quando leio blogues, redondeio por lugares solitários; os blogues da insónia, os desesperados que noite fora escrevem e publicam e apagam esperando ou que a exaustão os derrube ou que um sinal de Deus se manifeste nas ténues letras que piscam no ecrã. Os aforistas, os sofredores, os poetas. Imagino onde eles estavam antes, antes do prazer onanista do publish post. Os cadernos cheios de palavras que nunca ninguém lia. Quando um livro me chega às mãos, é um objecto terminado, a que se perdeu o rasto de vida que o animava enquanto estava a ser escrito. Depois de inúmeros rascunhos, reescritas, horas caindo sobre as folhas, o romance, o ensaio, o livro de poesia, respira independente do criador, e é de quem o lê, o criador simplesmente o esquece - e com alívio. Portanto, o livro esqueceu todos os dias em que foi sendo escrito, as horas, o tempo lá fora, as dores do quotidiano, as agruras normais da vida; é seco, estéril; sobretudo, distanciado e cínico. Os bloguers, pelo contrário, despejam o dia sobre o mundo. A ficção da biografia, uma realidade mediada pela urgência da comunicação. O escritor publicado pensa em livrar-se rapidamente do livro que escreveu; o bloguer alimenta o monstro, se necessário for, até à eternidade. Um trabalho em progresso que oscila entre o horror do fim e o terror do vício maldito. Até que um dia, a coragem acerca-se. E o publish deixa de ser o derradeiro kick do dia.
O sono torna-se um visitante habitual da noite.
[Sérgio Lavos]
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