25/04/08

25 de Abril

Não me parece ser difícil chegar a uma conclusão: que mais vale viver mal em liberdade do que bem em ditadura. Bem sei que haverá quem não concorde, quem sonhe com um passado em que privilégios e direitos se confundiam, um passado longínquo no qual a manutenção de um estatuto era a única razão para a mudança. Quem suspira pelas criadinhas, o choffeur, a porta aberta e as flores no aniversário, quem lamenta o fim do pudor e o princípio de uma liberdade sexual que conquistou tudo o que havia para conquistar, quem entretém o seu tempo perdendo-se num passado de salões brilhantes e políticos que eram pais da nação, ah, todos estes que foram esmagados pela roda da História, poderia ter pena deles, porque lhes compreendo os sentimentos - a velhice é um cortejo de desilusões, medo e memórias - mas a verdade é que exulto porque são os últimos representantes de um mundo extinto. Nenhuma língua poderá descrever com precisão a sensação de viver em liberdade; esta língua que agora se aproxima apenas se pode usar porque houve uns quantos que se importaram, que recusaram a desistência, que quiseram a mudança, por boas ou más razões, as correctas. Não há derrota que se possa obter que não passe por uma vitória; reclamar contra o 25 de Abril é a principal herança da Revolução. Dizer, falar, escrever. O que somos.

[Sérgio Lavos]

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