[Sérgio Lavos]
28/04/08
Um país de sombra
[Sérgio Lavos]
27/04/08
A herança
O despudor beatífico com que Cavaco assobia para o lado, como se tivesse vindo de um planeta distante para se tornar presidente de todos os portugueses e tivesse deparado com um mundo desconhecido e estranho aos seus hábitos, se não fosse tão repugnante, seria quase digno de um Oscar. E é esta a figura que a direita idolatra.
O problema de Salazar não foi a ditadura de 48 anos; os filhos, legítimos e bastardos, que deixou por aí, são a praga que teremos de suportar sabe-se lá até quando. Para quando a morte, definitiva, do Pai?
[Sérgio Lavos]
25/04/08
25 de Abril
[Sérgio Lavos]
Um poema
sobre metais distraidamente preciosos
pede ajuda ao vento
que ele te joeire o melhor trigo
comê-lo-ás saudando o sol de frente
o rosto cavado a terra benévola
desfere aí o golpe
e não fiques à espera do dilúvio
quem é que não voa
depois de triturada e chupada a medula
para o esquecimento de uma montanha?
Sérgio Pereira, in Istmos e Hordas, edições TOMAHAWK, 1997
23/04/08
A ressaca
Parecem os artistas suplicar a cada entrevista.
Fazes-me festinhas?
O meu romance não presta, a minha música não é de preto, não corre um pingo de originalidade nas minhas veias.
Amoleçam-me, amem-me, sou capaz de morrer dentro de pouco tempo.
[Sérgio Lavos]
20/04/08
Youth Without Youth (2)
O gosto pelo barroco oriental, pelo exagero formal e exibicionista, mas também pelo cinema de um tempo anterior à entrada na indústria, tudo marcas de autor assinaláveis. Se Peggy Sue acaba por ser uma reconstituição plástica dos anos 50, o que verdadeiramente interessa ao realizador, nesse filme, é a temática do tempo irrecuperável. Contrariando Proust, o passado não se pode mudar nem recuperar, materialmente ou através da memória. O interesse pelas filosofias orientais que Coppola demonstra em Uma Segunda Juventude não é apenas circunstancial; a ideia de reencarnação, de um ciclo de vida que se sucede a outro, completa o que tinha sido ensaiado em Peggy Sue e continuado em Dracula, com a sua eternidade entediada, cansada de si própria. Se Dominic Matei, o linguista a quem é dada uma segunda oportunidade de modo a que possa terminar a sua obra - e diga-se que a obra poderia ser a "Obra", com maiúscula, o encontro com Deus no sentido em que descobrir o princípio da Humanidade é encontrar Deus -, morre como Robert Walser, ele vive como a figura do vampiro, amaldiçoado pela benesse da eternidade. A rosa que segura no final, alquímica e símbolo de vida, nasce no momento em que tudo parece terminar - simbologia a descodificar, que ninguém parece ter entendido.
[Sérgio Lavos]
18/04/08
Youth Without Youth
Memória de um sonho
Em questões de livros, por exemplo, a minha memória assemelha-se, não tanto a um queijo suíço, mas a um pântano pejado de charcos onde estagnam todas as obras marcantes da primeira fase da idade adulta. A verdade é esta: recordo melhor os livros que lia aos 11 anos do que aqueles que folheei naquele período nebuloso entre os 16 e os 25 anos. Clarificando: tenho os livros nas prateleiras, passo os dedos por eles, e de cada vez que isso acontece, lembro-me vagamente da história, da época em que o comprei, com sorte do local onde o encontrei (em grande parte dos casos, nas minhas incursões pela Feira do Livro). Mas na realidade muitos dos que li não se fixaram, não deixaram cicatriz visível no passado. Por outro lado, ainda me lembro de muitas histórias d'Os Cinco, de todos os livros do Julio Verne, de todos os romances de Agatha Christie que li; apesar de não ter os livros - vivi numa aldeia, e passei a minha infância e adolescência a requisitar livros a bibliotecas escolares, municipais, e a uma carrinha da Gulbenkian que, uma vez por mês, passava pelo centro da aldeia e ali ficava parada durante o tempo suficiente para que a meia-dúzia de leitores renovasse requisições ou escolhesse livros novos. Talvez a selectividade da memória tenha apenas a ver com a construção da infância, o lugar idílico perdido no tempo. Ou então a nostalgia acolhe apenas as raridades, as singularidades de uma vida. E ler, para quem cresceu numa casa sem livros, era um acontecimento, porque não dizê-lo, e caindo no sentimentalismo, mágico.
Portanto, não me perguntem sobre as minhas obras-primas da década dos vinte, quando o gosto se começava a sedimentar; as fundações do leitor que sou vão mais fundo, ao tempo da biblioteca itinerante da Gulbenkian. Ao tempo em que fiquei com dois livros requisitados para sempre (nunca os devolvi). Não sei onde estão agora esses livros (talvez ainda sobrevivam nos escolhos da casa de infância); mas lembro-me muito bem de quais eram, tantas foram as vezes que os li, na falta de outras obras - um chamava-se Grandes Exploradores, e era uma série de mini-biografias de aventureiros de sempre, piratas e marinheiros, exploradores do Ártico e aviadores. O outro era um livro de histórias sobrenaturais, relatos de desaparecimentos no Triângulo das Bermudas e aparições do Holandês Voador, visões de fantasmas e esqueletos que mudavam de lugar.
Apesar de não os ter nas minhas estantes, a memória encarregou-se de os tornar mais reais que muitos que agora observo; um livro é tudo o que está para lá das páginas.
(Texto publicado primeiro no Arte de Ler)
[Sérgio Lavos]
15/04/08
Holy Fuck/Milkshake
Por falar em instrumentais, uma banda de Toronto que podiam ser os !!! sem vocais. Ou então os Green Jelly com mais groove. Bateria, baixo, guitarra, dois sintetizadores analógicos e um vídeo com uma técnica ultrapassada. O álbum, LP, é do ano passado, e o nome que escolheram é quase tão exclamativo quanto os mencionados !!!. Carregar no play e ouvir com atenção. A não perder também a incursão pelo shoegazing electrónico que é a música "Lovely Alien".
[Sérgio Lavos]
12/04/08
Homens e escritores
À noite, quando leio blogues, redondeio por lugares solitários; os blogues da insónia, os desesperados que noite fora escrevem e publicam e apagam esperando ou que a exaustão os derrube ou que um sinal de Deus se manifeste nas ténues letras que piscam no ecrã. Os aforistas, os sofredores, os poetas. Imagino onde eles estavam antes, antes do prazer onanista do publish post. Os cadernos cheios de palavras que nunca ninguém lia. Quando um livro me chega às mãos, é um objecto terminado, a que se perdeu o rasto de vida que o animava enquanto estava a ser escrito. Depois de inúmeros rascunhos, reescritas, horas caindo sobre as folhas, o romance, o ensaio, o livro de poesia, respira independente do criador, e é de quem o lê, o criador simplesmente o esquece - e com alívio. Portanto, o livro esqueceu todos os dias em que foi sendo escrito, as horas, o tempo lá fora, as dores do quotidiano, as agruras normais da vida; é seco, estéril; sobretudo, distanciado e cínico. Os bloguers, pelo contrário, despejam o dia sobre o mundo. A ficção da biografia, uma realidade mediada pela urgência da comunicação. O escritor publicado pensa em livrar-se rapidamente do livro que escreveu; o bloguer alimenta o monstro, se necessário for, até à eternidade. Um trabalho em progresso que oscila entre o horror do fim e o terror do vício maldito. Até que um dia, a coragem acerca-se. E o publish deixa de ser o derradeiro kick do dia.
O sono torna-se um visitante habitual da noite.
[Sérgio Lavos]
07/04/08
Beastie Boys/Off The Grid
A música já é de 2007, mas, em consequência do meu interesse pouco mais do que ameno pela banda em questão, apenas agora se chegou aos meus ouvidos e se fez ouvir. É verdade que comecei a gostar da música porque soa a tudo menos aos punk-rappers, ex-teenagers revoltados com o mundo, os pretos mais brancos do hip-hop e arredores (o Eminem não conta, é um menino). Qualquer coisa de rock progressivo, instrumental, com um baixo a fazer saltar as colunas e um ritmo groovy modernaço, a modos que um cruzamento entre Air e Daft Punk/Chemical Brothers, com um cheirinho Brian Eno vintage - se isto for possível; a guitarra shoegazing é excelente e o som de sintetizador analógico é a perfeita cereja em cima do bolo. Ah, e não sei se disse, mas é instrumental. Talvez a minha música preferida dos Beastie Boys (e perdão, Pedro, se cometo o pecado de gostar tanto dos rapazes como tu gostas do Bob Dylan.)
[Sérgio Lavos]
06/04/08
Língua morta
Quando Fernando Pessoa escreveu “a minha pátria é a língua portuguesa”, já tinha havido uma tentativa séria de estabelecer uma norma linguística, com o consequente controlo, por parte do estado português, dessa norma. Depois desta frase, muitas tentativas foram feitas para que essa norma existisse. Em 1992, foi estabelecido o Acordo Ortográfico para os países de língua portuguesa. Agora, enquanto escrevo este texto, desrespeito o acordo que, em princípio, deveria estabelecer a norma a partir de 2008.
Contudo, não desrespeito a língua. Escrevo em português, e ao escrever produzo uma língua diferente da que falo. Fernando Pessoa, quando escreveu essa frase, que tão bem tem servido os interesses de uma pátria que quase nunca respeita a herança deixada pelos grandes escritores do passado, não teria com certeza em mente esta irreprimível vontade de regular essa coisa volúvel (e como esta palavra se aproxima de volúpia) que é a língua. A pátria de Fernando Pessoa era o instrumento que ele usou para deixar a sua marca no mundo. Criar uma nova língua dentro da língua que antes havia. E se outra prova não houvesse, bastaria o facto de esta, e outras frases, do poeta continuarem a ser repetidas mais de setenta anos depois da sua morte.
Duvido que os belos bastardos da língua portuguesa se interessem minimamente pelo Acordo Ortográfico, com a sua regra e a sua excepção, com as suas supostas vantagens comerciais (onde já chegámos?) desta normalização forçada. Não precisam, usam a língua portuguesa como pátria, e isso é suficiente. Mia Couto, Luandino Vieira, Ondjaki, Rubem Fonseca, tudo o que eles escrevem é prova dura para superar pelos académicos bafientos que querem impor regras gramaticais e ortográficas ao resto do mundo. José Saramago e seu desengonçado flamenco prova que nada é tão rígido que não possa ser dobrado pelos anos de contacto com outra língua – ninguém poderá recusar o enriquecimento estilístico que as derivações cervantinas dos romances mais recentes de Saramago têm trazido. Por mim, escrever tendo em mente a música de outra língua abre o leque, balança o swing das mãos sobre as teclas. Há quem ouça música de negros para escrever; talvez eu precise apenas de derrogar por momentos a autoridade do meu português num longínquo gingar brasileiro para que todo meu pensamento se mova, se contorça, brilhe.
A questão é simples: queremos uma língua pura ou uma língua mestiça? A resposta é um pouco mais complexa do que poderia aparentar. O Acordo visa normalizar a mestiçagem da língua. E isso, parece-me bem claro, é um paradoxo. Nenhuma norma poderá obrigar um português a escrever como um brasileiro ou um angolano, e vice-versa. A mestiçagem é um fenómeno livre, o cruzamento de influências um fluxo libertário que não deve ser constrangido. Ao defender isto, não colocamos em causa a existência de uma gramática. Ela existe, é verdade, e deverá existir, sobretudo para não ser respeitada. A tradição literária contemporânea vive disto mesmo. O uso de coloquialismos, calão, gíria de bandidos, é traço comum em muitos autores brasileiros actuais e começa a ser também em alguma literatura portuguesa. A inovação passa por aqui; e mesmo que continuemos a admirar o divino português do Padre António Vieira, as duas coisas não são incompatíveis: basta pensar nos diálogos nos filmes de João César Monteiro para se perceber isto.
A única posição esteticamente correcta nesta questão é esta: promover uma gramática comum a todos os países de língua portuguesa na esperança de que esta seja continuamente desrespeitada por quem escreve e fala, contribuindo deste modo para que a língua portuguesa seja uma coisa viva, em permanente evolução, como qualquer língua deve ser. Se esta posição for a que vingar, não se duvide de que será o único modo de combater o predomínio da língua inglesa no actual mundo globalizado.
[Sérgio Lavos]
04/04/08
O Crocodilo que Voa
- Se valeu a pena?!... O que é que eu posso dizer a isso?... Foi como foi.
Não sei que resposta o entrevistador esperava; foi como foi. Há quem se atreva a dizer: foi bom, vivi tudo, vou feliz. Há quem arrisque: tenho medo, lamento que tenha medo, perdi a coragem que a vida me foi dando. A empáfia da personalidade que se vai sem arrependimentos apenas se perdoa se aceitarmos o natural orgulho humano; ninguém gosta de admitir que perdeu.
O que perdeu Luiz Pacheco? Nada. Qual o interesse de reunir em livro um conjunto de entrevistas que abarca o último quarto de vida do escritor libertino? Tanto do ponto de vista do leitor cusco como do autor, todo. Luiz Pacheco foi um malabarista da vida. Dançava para um público atento e atencioso, dava-se ares de ser mais do que era, ou menos do que parecia ser. A sua vida oscilou entre a decadência e a glória, mas é certo que teve mais da primeira do que da segunda. Ele tirava gozo de falar, de se expor, de confessar, de provocar, e sobretudo de se arrepender do que disse. No livro em questão, O Crocodilo que Voa, são inúmeras as vezes que lhe perguntam: disse isto antes, é verdade?, como que para confirmar o escândalo, a pouca vergonha; sobre sexo, quase sempre, e a má-língua, que também acaba por ser uma espécie de coito interrompido. Ele responde invariavelmente: eh, pá, isso não, nem pensar, exageram. Mas nunca desmente. O jogo era este, e desde a célebre entrevista dada à Kapa em 1992 até à sua morte, foi assim. A última entrevista, de resto, publicada postumamente no SOL, é uma exemplar lástima. O aproveitamento do entrevistador é penoso, o sofrimento em directo do escritor é lamentável.
Sobretudo, ler de fio a pavio o livro organizado por João Pedro George cansa. Pela repetição das histórias, pela insistência nos temas, pelo constante repisar de provocações, a cabra, a puta a fazer o pino, os magalas, etc.
O que adianta isto então à obra de Luiz Pacheco? Nada. Nada acrescenta ao brilho intermitente da sua prosa, a verve pontual ancorada no real que foi marca do que escreveu. Admito que, enquanto as entrevistas foram sendo publicadas na imprensa - a primeira que li foi feita pela Cláudia Galhós para o Blitz, na célebre sessão fotográfica com o velho vestido de Pai Natal, involuntário palhaço da geração rasca que lia o jornal - celebrava com júbilo não disfarçado cada aparição da figura. Agora, vistas as coisas em letra de forma, impressas e bem encadernadas, resta nada. Apesar do esforço do prefácio, do artesanato impecável do objecto livro, da tentativa (um cínico diria vampirismo, o Pacheco vociferaria chupismo) de divulgar junto de um público alargado a obra do último (e mais iconoclasta) representante de uma época que se finou há muito.
No fundo, ouvíamos (lendo) as patacoadas do Pacheco como se ouve o louco do bairro. Aquela história da sabedoria brotar dos sítios mais improváveis não anda longe disto. A telenovela do intelectual com pretensões anarquistas; deixemos o livro de lado e peguemos no que escreveu. A vida fora da vida. O que interessa.
(O Crocodilo Que Voa - entrevistas a Luiz Pacheco, organizadas por João Pedro George, ed. Tinta da China)
(Texto publicado no Arte de Ler)
[Sérgio Lavos]
02/04/08
Bruni vs Sarkozy
Mas não termina aqui o calvário calculado de Sarkozy. A avaliar pela sua ex, Cecilia, ele sofre claramente de um complexo que costuma atingir muito homem ao longo da vida: a busca incessante de uma mulher modelo, vulgo usar e deitar fora e voltar a escolher outra mulher exactamente com as mesmas características físicas; dito de outra maneira, Sarkozy está sempre a comprar o mesmo broche para espetar na lapela. Ora, esta patologia indica duas coisas: falta de imaginação e uma culpa por ter terminado com a mulher anterior; assim como medo de arriscar, o que não me parece muito condizente com uma carreira política. Os jornalistas é que vão vogando na onda, aproveitando a novela em que se tornou a política francesa actual - recordando também a derrotada Ségolene, ex-candidata a primeira presidente francesa; até nisto os EUA podem bater a neurótica França.
Posto isto, expliquem-me lá a razão de tanto fascínio por tal homem. A direita rejubila, mas exactamente com quê? É que nem vamos lá com a política (penso que é disso que ainda estamos a falar); grande parte das primeiras medidas tomadas por Sarkozy foi no sentido do proteccionismo económico, velha prática dos governantes franceses, da esquerda de Mitterrand à direita de Chirac. E nem a Bruni safa Sarkozy (segundo uma sondagem, o casal famoso com mais probabilidades de não durar muito). Eu, por mim, prefiro a irmã, Valeria Bruni; excelente actriz, realizadora estimulante (Mais Depressa Um Camelo...), mulher dona de uma beleza tão discreta como a sua personalidade. Que Sarkozy faça bom proveito; escolheu a irmã errada - o que, sendo quem é, não surpreende.
[Sérgio Lavos]
Mário de Carvalho
Mário de Carvalho, na entrevista que deu ao Ipsilon na passada sexta-feira, é um exemplo deste encontro entre discurso oral e discurso escrito. Dito de outro modo, ele fala como escreve, ou pelo menos usa o mesmo rigor ao falar que usa na escrita. As mesmas ideias claras, a ironia mais ou menos amarga, a seriedade pontual, quando o assunto assim obriga. A afirmação que faz, no sentido de, a cada livro, procurar a diferença, é um reflexo destas variações entre o humor subtil e o sarcasmo que revela nas entrevistas que dá. A sua obra confirma isto: os livros sérios alternam com as obras que se aproximam da sátira de costumes ou do retrato bairrista ao estilo de Dinis Machado; no entanto, o rigor na construção da língua, no entretecer da gramática, o estilo de pendor clássico - não é de forma displicente que ele refere Padre António Vieira como antecessor inultrapassável - não muda de livro para livro. Reconhecemos as marcas, o cuidado e o prazer que nasce da forma pura; a língua revelando as suas estruturas mais complexas.
Não há cedências, repetição, cair nas armadilhas de uma Obra, comércio a retalho disfarçado de literatura; talvez por isso o homem que fala com jornalistas (e que eu já tive o prazer de ouvir falar em conferências) é o mesmo que escreve, sem pose a manter ou imagem a criar. Se a literatura não é a realidade, pode, em raros casos, em casos de génio, ser verdade. Não estarei longe de uma verdade se disser que Mário de Carvalho é o nosso escritor mais importante - o grande que poderá respeitar a herança dos nomes citados na entrevista: Pessoa, Padre António Vieira, Fernão Lopes, Eça de Queirós. Longe do brilho fátuo das eminências pardas que a cada livro se põem em bicos de pés para a eternidade. Os livros, como diz o lugar-comum, falam por ele.
[Sérgio Lavos]