Conheci Al Berto num sonho. Actores moviam-se num palco improvisado, a dois passos do lugar onde estava sentado, e não eram actores, eram personagens do Lunário, e não eram também personagens, eram Alberto e os amigos, amantes, e não eram homens e mulheres, eram corpos em movimento, esboços no papel e sombras na memória, não eram nada, apenas luz e um resto de rio parado.
Há um momento na vida em que o lirismo pop de Al Berto faz sentido. Passei por esse momento, como muitos que o admiram (ou admiraram) como o fazem a uma estrela de rock. Não era a marginalidade, o risco. Nem sequer a aura romântica, como um Rimbaud recente ou um Allen Ginsberg doméstico. Era o corpo que aparecia plasmado na poesia que escrevia. De algum modo, olhava para a fotografia do poeta roubada por Paulo Nozolino a Caravaggio para a capa d'O Medo (naquela edição da Contexto) e via mais que um homem escrevendo - uma simulação de anjo. E a adolescência é propícia a estes encontros com anjos. Entretanto, fui ficando mais velho. E cínico. Deixei de gostar como gostava de Al Berto. Encontrei-lhe uma ou outra fraqueza, mas sobretudo descobri nele uma sinceridade no dizer que já não consigo admirar nos poetas. O problema é meu, portanto.
Al Berto morreu num dia 13 de Junho, há dez anos. São tantos os textos que escrevi sobre ele (poemas, dedicatórias, contos com personagens inspiradas nele) que se torna injustificada a minha distância em relação à sua poesia. Entre a vontade de sobreviver numa vida que se afasta cada vez mais rápido do sonho em que encontrei Al Berto e a necessidade de regressar de vez em quando a esse sonho, vou jogando a minha relação com o poeta; que é, em simultâneo, uma dança com o meu passado - esse que não cessa de resistir em cada verso d'O Medo.
Al Berto morreu num dia 13 de Junho, há dez anos. São tantos os textos que escrevi sobre ele (poemas, dedicatórias, contos com personagens inspiradas nele) que se torna injustificada a minha distância em relação à sua poesia. Entre a vontade de sobreviver numa vida que se afasta cada vez mais rápido do sonho em que encontrei Al Berto e a necessidade de regressar de vez em quando a esse sonho, vou jogando a minha relação com o poeta; que é, em simultâneo, uma dança com o meu passado - esse que não cessa de resistir em cada verso d'O Medo.
[Sérgio Lavos]
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