Os redutos da masculinidade já foram mais escassos do que agora, apesar de ser moda afirmar o contrário. Quanto mais forte é a revolução, mais possibilidade existe de haver uma reacção. O resultado deste equilíbrio de forças usualmente chama-se progresso.
Chega do elogio do metrosexual. Quem quer ser um David Beckham quando a maior parte das mulheres afirma preferir um Dr. House, exibindo uma amargura cinicamente macha a toda a prova? Talvez existam exemplares do sexo feminino que não trabalhem em supermercados ou cabeleireiros que gostem de Beckham, mas uma coisa é a cabeça a falar - o elogio da sensibilidade, do gosto mais que requintado por um bom creme de beleza, da companhia em dia de saldos - outra são os genes; e nenhuma vontade feminista resiste à pulsão de um bom modelo de homem. Entre Beckham e as feromonas, mostrem-me a mulher que escolha o modelo efeminado que Beckham representa - a não ser, é claro, que falemos dos seus atributos financeiros. Mas será que o dinheiro ainda é o mais forte afrodisíaco?
Vem isto a propósito de "Die Hard 4.0", bela série B que pegou numa receita equilibrada de músculo testosterônico e derissão pós-moderna para retomar a personagem do polícia duro de morrer John McClane (Bruce Willis), conhecido por aparecer sempre no sítio errado à hora errada. Clichés à parte (e há bastantes, mesmo que embalados num jogo de citações esperto que apenas valoriza o filme), é sempre bom receber uma descarga de adrenalina via ecrã de cinema. Queremos personagens? Não, de maneira nenhuma. Basta a história, esgrimida com o talento suficiente para que um realizador médio não complique e borre a pintura. Aliás, muito longe disso; Len Wiseman consegue aqui e ali uma destreza técnica que lhe fica bem e não desmerece a série herdada do excelente John McTiernan. Um ritmo imparável, planos originais e uma montagem competente servem para passar uma mensagem - o tema do dia continua a ser a ameaça terrorista e a herança do pós-11 de Setembro. É verdade que a mensagem é reaça (como reparou Pedro Mexia) mas também é verdade, como afirma Luís Miguel Oliveira no artigo para o Ipsilon, que o herói clássico do cinema americano sempre o foi. Desde a perseguição de John Wayne aos índios em "The Searchers" até Bruce Willis defendendo a América de uma ameaça esquerdista, os exemplos multiplicam-se. Mas sempre com desprendimento e amargura - com todo o estilo do mundo. No fundo, sabemos que o herói reaccionário do cinema americano representa a alma de um povo. A impotência perante o perigo desconhecido. No tempo do velho Oeste, o homem de fronteira conquistava território para o homem branco e defendia-o dos antigos ocupantes. Nos dias de hoje, o cenário torna-se urbano, mas a ameaça é a mesma. Sempre o território a defender; o mito do "frontier man" não esmoreceu, em tempos de terrorismo mediático.
E os heróis estão aí, no ecrã, personagens de ficção que sobrevivem a tudo com um sorriso nos lábios e uma frase jaculatória de vingança, piada libertadora da tensão acumulada, mesmo antes da morte do vilão: "Make my day, punk!"; "Hasta la vista, baby!" "Yippee Ki Yay Motherfucka!" Saímos da sala mais descansados.
[Sérgio Lavos]
Chega do elogio do metrosexual. Quem quer ser um David Beckham quando a maior parte das mulheres afirma preferir um Dr. House, exibindo uma amargura cinicamente macha a toda a prova? Talvez existam exemplares do sexo feminino que não trabalhem em supermercados ou cabeleireiros que gostem de Beckham, mas uma coisa é a cabeça a falar - o elogio da sensibilidade, do gosto mais que requintado por um bom creme de beleza, da companhia em dia de saldos - outra são os genes; e nenhuma vontade feminista resiste à pulsão de um bom modelo de homem. Entre Beckham e as feromonas, mostrem-me a mulher que escolha o modelo efeminado que Beckham representa - a não ser, é claro, que falemos dos seus atributos financeiros. Mas será que o dinheiro ainda é o mais forte afrodisíaco?
Vem isto a propósito de "Die Hard 4.0", bela série B que pegou numa receita equilibrada de músculo testosterônico e derissão pós-moderna para retomar a personagem do polícia duro de morrer John McClane (Bruce Willis), conhecido por aparecer sempre no sítio errado à hora errada. Clichés à parte (e há bastantes, mesmo que embalados num jogo de citações esperto que apenas valoriza o filme), é sempre bom receber uma descarga de adrenalina via ecrã de cinema. Queremos personagens? Não, de maneira nenhuma. Basta a história, esgrimida com o talento suficiente para que um realizador médio não complique e borre a pintura. Aliás, muito longe disso; Len Wiseman consegue aqui e ali uma destreza técnica que lhe fica bem e não desmerece a série herdada do excelente John McTiernan. Um ritmo imparável, planos originais e uma montagem competente servem para passar uma mensagem - o tema do dia continua a ser a ameaça terrorista e a herança do pós-11 de Setembro. É verdade que a mensagem é reaça (como reparou Pedro Mexia) mas também é verdade, como afirma Luís Miguel Oliveira no artigo para o Ipsilon, que o herói clássico do cinema americano sempre o foi. Desde a perseguição de John Wayne aos índios em "The Searchers" até Bruce Willis defendendo a América de uma ameaça esquerdista, os exemplos multiplicam-se. Mas sempre com desprendimento e amargura - com todo o estilo do mundo. No fundo, sabemos que o herói reaccionário do cinema americano representa a alma de um povo. A impotência perante o perigo desconhecido. No tempo do velho Oeste, o homem de fronteira conquistava território para o homem branco e defendia-o dos antigos ocupantes. Nos dias de hoje, o cenário torna-se urbano, mas a ameaça é a mesma. Sempre o território a defender; o mito do "frontier man" não esmoreceu, em tempos de terrorismo mediático.
E os heróis estão aí, no ecrã, personagens de ficção que sobrevivem a tudo com um sorriso nos lábios e uma frase jaculatória de vingança, piada libertadora da tensão acumulada, mesmo antes da morte do vilão: "Make my day, punk!"; "Hasta la vista, baby!" "Yippee Ki Yay Motherfucka!" Saímos da sala mais descansados.
[Sérgio Lavos]