13/07/08

A senhora de branco

E claro, Margarida Rebelo Pinto, que eu não conheço pessoalmente e contra a qual nada tenho contra, foi capa do terceiro número pós-remodelação da revista Ler. Belo tom de branco no branco, eis a literatura no seu esplendor. Uma provocação, claro, uma provocação depois de Saramago e Lobo Antunes: um livro é um livro é um livro. Será? Pois é que é. Um livro tem capa, folhas de papel, letras impressas; uma revista de livros serve, antes de mais, para divulgar o que se vai publicando. E que Carmo e que Trindade caíram, com a bela senhora de branco na capa? A do bom gosto, arriscamos? Não se duvide. Mas o bom gosto, lá está, não se deve circunscrever ao círculo habitual da academia e da crítica amanuense dos jornais; o bom gosto dos leitores - os queixos batem de pasmo ao verem exposta nas mesas das livrarias a senhora e a capa respectiva. É claro que se ouviram comentários em surdina: veja-se lá, bastaram dois números para a pouca vergonha vir ao de cima. No fundo, o moralismo não é um privilégio do burguês; existe por aí muito proletário que se tinge de vergonha quando uma ponta do lixo editorial é destapada, nem que seja brevemente. Convenhamos: a provocação, ainda que quanto ao caso cada um saiba de si e melhor é que falem mal do que não falem, etc. e tal, a provocação vale o que vale: semanas, um mês, críticas no Expresso e no Público, a galhofa momentânea do intelectual, alguma pena à mistura (a senhora teve um problema de saúde) e a decadência progressiva no gráfico das vendas (não há marketing editorial que a salve).
A literatura, alva e leve como uma manhã no campo; nem o Tide pode lavar tal mancha.

[Sérgio Lavos]

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