11/07/08

Regresso

Seis dias depois, regresso do lençol de água típico de Inglaterra, a densa nuvem que parece cobrir eternamente o país - um castigo para o cultivado isolacionismo do povo que lá habita. Volto ao Sol, e a este fantástico país que a partir das 9.30 da noite apenas mantém em aberto uma via de saída do aeroporto da Portela, e essa é controlada por essa associação de criminosos na reforma que é a Antram, o que significa a) que me arrisco a ver a viagem até à Gare do Oriente rudemente recusada, ou b) cobrarem-me uma taxa de excepção pela curta jornada. Nem o Metro chegou lá, quarenta anos depois da inauguração, nem a Carris se atreve a contradizer a lei do velho Oeste imposta pelos taxistas; e ninguém reclama - nem os pobres turistas indrominados, que ficam logo à chegada com uma bela imagem do país, nem os portugueses que aprenderam a comer e a calar, a nossa segunda pele.

O hábito vai atenuando este choque inicial do regresso, e a retoma de uma rotina é o remédio para a doença dos dias. Pormenores, pequenas coisas sem importância, de que nem nos lembramos quando estamos fora, a bica familiar e o pastel de nata para confortar a amargura, a compra diária do jornal para descobrir aquilo que já sabemos.

Vale que a chuva continue ternamente a fustigar a longínqua ilha enquanto aqui nos aguardam mais de 300 de dias de sol e azedume; e nem o sol consegue adoçar o azedume.

[Sérgio Lavos]

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