A modernidade criou uma nova raça, resistentes que regressam a casa tarde, em comboios e autocarros suburbanos, caídos entre o sono e o cansaço de um dia de trabalho nos centros comerciais. O progresso material exige os sacrifícios necessários: pão na mesa e fins-de-semana a fio de trabalho a alimentar o consumo dos privilegiados que não precisam de se preocupar com o PIB e a competitividade das empresas, com a concorrência dos chineses ou com as metas de convergência da União Europeia. Acordar a meio do dia e acabar o dia a meio da noite, sombras a caminho de casa e do sono das mulheres e dos filhos - tudo talvez seja relativo; que a riqueza das nações é mais importante que o sacrifício de uns quantos. No fim de contas, dispensámos a criadagem e os operários da metalurgia; o que temos em troca - licenciados subaproveitados a curtir o ressentimento nas caixas dos supermercados - compensa largamente a perda. Solitários forçados, meio loucos, fantasmas esquecidos da globalização. Afinal, vale a pena. A vida, essa, avança.
[Sérgio Lavos]
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