No número de Junho da revista Wire, o escritor Michael Faber resume a situação; falando do melhor concerto da sua vida, menciona um de Nico e outro dos Birthday Party. Mas a sua epifania deu-se ao assistir a uma improvisação numa cidade a norte de Budapeste. O concerto aconteceu por acaso. Faber viu-se arrastado por uma multidão na rua, convidados e músicos e respectivos instrumentos, em direcção a uma cave esconsa onde mal cabia toda a gente. A banda chamava-se (ainda existem) After Crying. Tocavam rock progressivo com instrumentos tradicionais de música clássica - piano, violencelo, flauta. Como diz um dos músicos a Faber: "We´ve suckled at the breast of Robert Fripp". No final, o pianista começa a tocar acompanhado da filha, em sessão de improvisação. Nas palavras de Faber: "It was one of the loveliest things I've seen or heard. I thought to myself: "This is real. This is happening right now, right here, and it will not happen again. No one outside this room will ever care about it. It will never attain mythic status. It will never be written about in Q or Wire. And this is the fate of 99.99 per cent of all marvellous, music that has ever been made and that ever will be made. And it's OK."
Quando uma banda tem plena consciência do seu lugar no mundo, perde a sua essência. O que aconteceu aos Arcade Fire no Super Bock Super Rock poderia ser isto. Lembro a primeira versão deste festival. Quando vi, pela primeira e única vez, os Morphine ao vivo. Alguém os ouve, ainda? Nem por sombras. São apenas uma memória para os milhares que ficaram deslumbrados com esse concerto - distante das dezenas que viram os After Crying naquele dia, mas a ideia é a mesma. Creio que os sortudos que viram os Arcade Fire em Paredes de Coura devem ter sentido na pele isto - um arrepio irrepetível. Por isso, extasiaram ao som da missa que os músicos canadianos deram na semana passada. Eu não estive lá da primeira vez. Não me converti. Nenhuma Nico pode bater em sentimento uma improvisação entre pai e filha.
Quando uma banda tem plena consciência do seu lugar no mundo, perde a sua essência. O que aconteceu aos Arcade Fire no Super Bock Super Rock poderia ser isto. Lembro a primeira versão deste festival. Quando vi, pela primeira e única vez, os Morphine ao vivo. Alguém os ouve, ainda? Nem por sombras. São apenas uma memória para os milhares que ficaram deslumbrados com esse concerto - distante das dezenas que viram os After Crying naquele dia, mas a ideia é a mesma. Creio que os sortudos que viram os Arcade Fire em Paredes de Coura devem ter sentido na pele isto - um arrepio irrepetível. Por isso, extasiaram ao som da missa que os músicos canadianos deram na semana passada. Eu não estive lá da primeira vez. Não me converti. Nenhuma Nico pode bater em sentimento uma improvisação entre pai e filha.
[Sérgio Lavos]
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