11/12/06

Na morte de um caudilho

Na morte de Pinochet, os mesmo velhos hábitos de sempre. Alguns dias depois da esmagadora (e democrática) vitória do folião Chavez na próxima Venezuela - e ninguém poderá negar a força das ironias da História. Passando os olhos pelos blogues de direita, nada muda. A lamúria não é abertamente confessada, mas quase que se adivinha uma lágrimazinha no canto do olho em alguns defensores das reformas económicas que foram levadas a cabo pelo general chileno - e da limpeza apriorística do sujo comunismo do proto-ditador Allende. Há números e números, há ditadores e ditadores, e há esse saudável hábito de desculparmos os excessos dos que estão com o coração do lado certo - seja direito ou esquerdo - com as atrocidades dos outros. Pinochet matou três mil e encarcerou incontáveis milhares? Castro também o fez, Chavez faria-o se pudesse. E Pol Pot. E Kim Il-Sung. E Estaline. A esquerda riposta do mesmo modo. Castro persegue os opositores políticos? E a ditadura de Fulgencio Batista, era melhor? E Guantánamo? E a miséria do Capital?
Sejamos claros: provavelmente, André, irá suceder o previsto. Quando Castro morrer, muitas vozes que celebraram o desaparecimento de Pinochet irão calar-se ou lamentar o fim da utopia cubana. Sabemos disso. E será verdade que em Portugal isso é inevitável. Somos herdeiros de uma revolução de esquerda e de uma geração que se alimentou de todas as utopias revolucionárias falhadas. Mas um parágrafo, um parágrafo que seja, escrito em forma de elegia acanhada ao ditador chileno, basta-me para recusar comparações entre massacres e crimes. O sangue de uns não limpa o sangue de outros. A conversa fiada não me consegue comover - como não me comovem as lamúrias da praxe. De um lado ou de outro.

Adenda: O texto do Rui diz tudo.

[Sérgio Lavos]

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