Não se deveria estar a celebrar a nomeação de Maria José Morgado para dirigir a investigação no processo "Apito Dourado". Não se deveria, mas fazêmo-lo. Uma velha mania nossa, esperar por salvadores surgindo da bruma. No horizonte vazio da Justiça portuguesa, não se vislumbrava mais nenhum nome que pudesse assegurar a credibilidade necessária para o nosso cansado coração, farto de magistrados candidatos a lugares no Conselho de Justiça da FPF, de escândalos que se arrastam pelos tribunais e pelas mãos de investigadores e procuradores em busca de fama e protagonismo.
Vamos lá, agora é só fazer fila para agradecer a dona Carolina. Seis milhões de portugueses (os benfiquistas) regozijam com o desafio e o saudável hábito de lavar ao ar livre a sujidade que carregou durante seis anos - e ainda têm como bónus extra um vislumbre da intimidade partilhada com Jorge Nuno.
A última semana fez-me acreditar piamente na deriva dos continentes. Em poucos dias, Portugal conseguiu galgar os milhares de quilómetros que o separam das repúblicas sul-americanas, deixando para trás a cómoda civilização europeia. E os portugueses brindam ao facto, dirigindo-se a correr em direcção às livrarias, entre a euforia da pertença e a celebração da vingançazinha, entre o delírio da devassa e a alucinação da descoberta da verdadeira alma de um povo. Nunca uma livraria se pareceu tanto com uma capelinha dos devotos - magotes de basbaques fazem romarias para comprar o livrinho de que toda a gente fala.
Mas tudo passa. Semanas se perderão sobre semanas, Carolina vai ser esquecida, Jorge Nuno continuará o seu papado, imune ao fervor religioso dos milhões que esperam a justa retribuição depois de tantos anos de suspeita - e de derrotas. Irá ser acusado, condenado? O clube que dirige irá ser castigado pelos seus despautérios? Não brinquem. O futebol é uma outra galáxia, com as suas próprias regras de conduta - ou talvez não; talvez se pareça demasiado com o resto do país. O problema não é dos dirigentes desportivos. É do português comum, ao dar mais importância ao futebol do que à política ou ao estado da nação e das instituições que a governam.
O futebol é mau. O país é péssimo. Coragem, um pouco mais de esforço para bater no fundo!
Vamos lá, agora é só fazer fila para agradecer a dona Carolina. Seis milhões de portugueses (os benfiquistas) regozijam com o desafio e o saudável hábito de lavar ao ar livre a sujidade que carregou durante seis anos - e ainda têm como bónus extra um vislumbre da intimidade partilhada com Jorge Nuno.
A última semana fez-me acreditar piamente na deriva dos continentes. Em poucos dias, Portugal conseguiu galgar os milhares de quilómetros que o separam das repúblicas sul-americanas, deixando para trás a cómoda civilização europeia. E os portugueses brindam ao facto, dirigindo-se a correr em direcção às livrarias, entre a euforia da pertença e a celebração da vingançazinha, entre o delírio da devassa e a alucinação da descoberta da verdadeira alma de um povo. Nunca uma livraria se pareceu tanto com uma capelinha dos devotos - magotes de basbaques fazem romarias para comprar o livrinho de que toda a gente fala.
Mas tudo passa. Semanas se perderão sobre semanas, Carolina vai ser esquecida, Jorge Nuno continuará o seu papado, imune ao fervor religioso dos milhões que esperam a justa retribuição depois de tantos anos de suspeita - e de derrotas. Irá ser acusado, condenado? O clube que dirige irá ser castigado pelos seus despautérios? Não brinquem. O futebol é uma outra galáxia, com as suas próprias regras de conduta - ou talvez não; talvez se pareça demasiado com o resto do país. O problema não é dos dirigentes desportivos. É do português comum, ao dar mais importância ao futebol do que à política ou ao estado da nação e das instituições que a governam.
O futebol é mau. O país é péssimo. Coragem, um pouco mais de esforço para bater no fundo!
[Sérgio Lavos]
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