Não te convenças de que sabes tudo
nem que estes sejam os últimos momentos de vida
e que tudo o que recordas
seja como o vento
soprando pelo sonho de alguém.
Não te convenças de que tudo o que sabes
é mais do que aquela folha seca
que o rio transporta em direcção ao mar.
Não carregues aos ombros mais do
que a sombra das brincadeiras
que tinhas nas traseiras da casa de infância
ou a luz que te leva pela margem
quando procuras o lugar para ancorar.
Nesse lugar onde podes esquecer
quem és e o que te prende à terra,
esperas pela grande ordem material,
o zimbro imemorial, o fogo sólido,
na boca e nos braços abertos ao mundo
partes sabendo que
no fim da viagem, para lá da curva
plena onde assenta a penumbra dos plátanos,
colherás o incêndio semeado.
O que sabes não se esconde, onde te perdes;
mas a sua sombra, estendendo-se,
recolhe-te e vai-te enganando. Ou tu te enganas.
Sem comentários:
Enviar um comentário