Chega de mansinho, a meio da felicidade.
À traição, embosca-se e encurrala-nos,
e entrega-nos à sua ferocidade negra.
Num momento, estamos esquecidos do mundo
e somos o seu centro unívoco.
No outro, o sangue arde nas veias
e a náusea dança nas entranhas,
atraindo à boca a alma e o seu reverso.
É a vida esse doce esquecimento dela,
e quando tentamos submete-la a um compasso,
a uma esquadria, ela escapa-se-nos, desfoca-se,
torna-se o absoluto vazio, matéria solta, espaço
ocupado pelo cão negro que nos persegue pelos dias fora.
E não conhecemos as defesas.
Tentamos recordar aquele tempo
em que os dias eram largos e fluidos
como o mar que nos pede o verão.
Falhamos. A cada tentativa voltamos a
perder – palavras acumulando-se sobre
os passos, som sem sentido, eco desaparecendo.
Na volta que damos,
procuramos o rasto do esquecimento,
a terna mão que nos leva pelos montes
até ao lugar onde repousa a infância.
Não olhemos de frente o medo:
o seu rosto é tão parecido com o nosso.
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