Estaria mais interessado em
roubar a alma da cidade
do que em vivê-la, sentir a leveza da pedra
nos dedos e a luz caindo sobre a tarde
como uma amante reencontrada,
e cada fotografia que tirava
afastava-o mais desse centro essencial
de que falam os poetas e os teólogos.
Quando estava a escolher as imagens
que dariam sentido à cidade que dizia amar,
foi pensando no exacto instante
em que parara e decidira enquadrar
e matar com o obturador a parcela de tempo
que o abismava. Perdeu muito. E tudo o que ganhou –
a beleza desfocada e a imitação da vida –
não se compara ao que recorda.
A realidade é uma âncora presa à memória – para trás,
fica tudo o que não se pode capturar.
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