08/05/13

Coisas simples

"Mas naqueles tempos de juventude em Paris eu achava que a alegria era um disparate e uma vulgaridade e, com notável impostura, fingia ler Lautréamont e não parava de incomodar os amigos insinuando a todo o momento que o mundo era triste e que não tardaria a suicidar-me, pois só pensava em estar morto. Até que um dia encontrei Severo Sarduy no La Closerie des Lilas e perguntou-me o que pensava fazer no sábado à noite. «Matar-me», respondi-lhe. «Então fica para sexta», disse Sarduy. (Anos depois ouvi Woody Allen dizer o mesmo e fiquei de boca aberta, Sarduy tinha-se-lhe antecipado.)
A partir daquele dia, incomodei menos os amigos com essa ideia da morte por mão própria, mas durante muito tempo mantive - até Agosto deste ano não estava completamente pulverizada - a minha crença na elegância intrínseca do desespero. Até que descobri como era pouco elegante passear triste, morto e desesperado pelas ruas do nosso bairro de Paris. Compreendi-o este Agosto. E a partir de então a elegância encontro-a na alegria. «Empreendi várias vezes o estudo da metafísica, mas fui interrompido pela felicidade», dizia Macedonio Fernández. Agora penso que não é elegante mas de verdadeiros cataplasmas estar no mundo sem sentir a alegria de viver. Fernando Savater diz que a frase castiça encarar as coisas com filosofia não significa encarar as coisas com resignação, nem tão-pouco com gravidade, mas sim encará-las alegremente. Claro. Bem vistas as coisas, dispomos de toda a eternidade para estarmos desesperados." 

Enrique Vila Matas, Paris Nunca se Acaba, tradução de Jorge Fallorca, editado pela Teorema.

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