Um filme que vê a luz - que é como quem diz, é visto - muitos anos depois de finalizado, muitas montagens depois, dois mortos pelo meio - os produtores Anthony Minghella e Sidney Pollack*. Não é caso único, longe disso, mas não deixa de ser facto assinalável.
Margaret, de Kenneth Lonergan, o realizador da pequena maravilha You Can Count on Me. Um nome de mulher que não é nome de figura nem de personagem, é nome de poema de John Maynard Hopkins dito por um professor, já na segunda metade do filme. Falamos do mundo indecifrado da adolescência, resguardado do olhar dos adultos. A inocência perversa, incompreendida por quem já se esqueceu desses doces anos da certeza. Certeza das coisas sobre as quais estávamos errados. Certeza de que a incerteza será passageira (e ainda não sabemos que nunca o deixará de ser). Lonergan consegue captar esse momento de passagem - a forma do mundo moldada pelas mãos de uma adolescente que, ao sentir a morte de frente, sabe que perdeu o presente. Como os EUA perderam, no 11 de Setembro, a sombra pairando sobre a história. Filme admirável, sei que se entranhará no passo do tempo. Apesar de todas as imperfeições.
*Martin Scorcese andou metido ao barulho na fase da pós-produção, e a versão estreada em 2011 não será a do realizador - esta terá sido editada a meias com Scorcese. História aqui.
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