Olho para as três pilhas de livros na mesinha de cabeceira e vejo o meu ano resumido. Resumido, não, somado e completo. No que diz respeito a leituras, mas também no que diz respeito ao resto, essa coisa íntima de que não podemos falar, a existência.
(O itálico não é uma citação de outro autor, não literal, mas repete uma ideia feita. Nós seremos o que nos é exterior ou seremos o que os outros descobrem que nós somos. Por isso dizem que o amor é uma revelação. Tem de ser uma revelação, uma entrega de nós ao outro, o Eu revelado, e toda essa treta místico-psicológica.)
Mas as três pilhas. Os que li até ao fim, os que deixei a meio, os que nem cheguei verdadeiramente a começar. Se tiver muita paciência e pouca preguiça, vou falar de alguns dos livros até ao fim do ano.
A pilha do meio, livros abandonados:
Pensar, depressa e devagar, Daniel Kahneman. Estava a gostar do livro, ficou na página 130/131, mas meteram-se outros livros (ou outras vidas?) pelo meio. Tem coisas de que não gosto - dispensaria a descrição pormenorizada das experiências, etc. Mas talvez o retome (apesar de tê-lo deixado há mais de seis meses).
Cidades Invisíveis, Italo Calvino. Uma releitura que não chegou a arrancar, sobretudo porque a razão pela qual eu tomei a decisão de o reler deixou de fazer sentido. Tanto, que já nem me lembro da razão. Mas havia.
Duluoz, o Vaidoso, Jack Kerouac. Tanga pretensiosa. Como só Kerouac sabia escrever. Ainda está para nascer o dia em que sentirei um assombro igual ao que senti quando li Pela Estrada Fora.
Vida e Destino, Vassili Grossman. Para que serve um tijolo sobre a Segunda Guerra Mundial escrito por um soviético?
Experience, Martin Amis. Terei começado a ler este no final do ano passado, mas nunca cheguei ao fim. Amis continua a ser um escritor que me é esquivo, apesar de todas as boas referências (e do indiscutível "prazer da linguagem" que me provoca).
O Regresso do Amor, Alice Munro. Os contos de Munro e de Lydia Davis têm sido abundantemente elogiados em todo quanto é tugúrio mais ou menos respeitável. Até agora, não percebi porquê. Talvez por ter sido este o ano em que li finalmente as histórias de Flannery O'Connor. A fasquia elevou-se a níveis estratoféricos.
As Vinhas da Ira, John Steinbeck. A tradução (da colecção Mil Folhas, que o Público lançou aqui há uns anos) não é boa. Terei de ler em inglês, até porque as primeiras vinte páginas não desiludem, por entre tanta gralha e erro.
Haverá mais? Terei de ver. A continuar. Isto e o resto.
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