05/06/09

Siri Hustvedt

No outro dia sonhei encontrar Siri Hustvedt e Paul Auster. Não era realidade, e eu sabia (no sonho). Eu sabia que sonhava pertencer a um livro e os encontrava a meio de um enredo austeriano. Auster regressara da Noruega e trouxera com ele aquela mulher belíssima, provocando a admiração de todos os homens. Contudo, a confiança que uma mulher deslumbrante poderia trazer era estranha a Auster. Ele olhava em redor, procurando o espanto alheio ou a até mesmo a inveja, como se fosse possível a um homem invejar outro por uma conquista amorosa, por mais bonita que seja a mulher. Seria um homem crente de que uma mulher bonita é mais caprichosa, e portanto disposta a ser levada por um vento diferente de modo mais fácil? Ou era ele apenas um fraco representante da raça masculina, incapaz de reunir poder a partir de uma conquista? Eu queria acreditar na segunda hipótese, e por isso fui-me aproximando dos dois provido de uma fé desrespeitosa. Pensava seduzir aquela beldade pálida e imaginar-me num filme de Hitchcock. Nem a diferença de alturas iria deter os meus avanços. Auster fraquejava e afastava-se, acudia a uma solicitação de outro leitor ou fugia de mim, deixava-me avançar no terreno de batalha. Ainda faltava saber que táctica utilizaria na aproximação. Inclinava-me para uma aproximação directa - não sabia se a devoção seria suficiente para o interesse de alguém inacessível. Pensei em frases de engate, fracas, inertes - o amante dela era escritor. Pensei em usar a franqueza de um bruto - mas ela era demasiado inteligente para tal coisa. Seria então a inteligência a arma que me serviria. Aproximava-me, e Auster era apenas uma miragem, um vulto entre uma multidão de leitores que faziam o meu trabalho sujo, distraiam-no o suficiente para que eu pudesse dar a estocada final. Ela estava sentada e sentei-me ao lado. Sussurrei a minha deixa ao ouvido; foi a última coisa que fiz, antes de acordar.

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