O que realmente me apoquenta é não poder utilizar todos os recursos que tenho à disposição quando escrevo. Assuntos que não domino. Palavras que ainda não aprendi, ou que simplesmente esqueci. Metáforas que nunca usarei por me faltar o conhecimento técnico para isso. Ainda há pouco escrevi: traço contínuo. Nem sei bem o que isso é, mas imagino. Uma estrada perdida, pedida de empréstimo a Lynch, claro, a imagem. Um traço descontínuo que se prolonga arrastado pela velocidade de um automóvel. Conduzir, não sei, nunca aprendi, mas imagino. Vejo imagens. Leio imagens. Sal Paradise guiando contra a paisagem americana. Valeu o nome de um filho, ter lido Kerouac demasiado tarde na vida. Valeu a pena. Não conduzo, por isso muitas vezes não vou a tempo de me desviar das inconveniências da vida. Ou da língua. As mesmas curvas e contracurvas que tenho de evitar, guinando nos limites, condução perigosa de quem nunca tirou a carta. Já foi utlizada, esta ideia. Escasseiam os recursos. Evito o embate. Sigo viagem, mesmo sem saber ler o mapa. Mas sei onde é a tua casa.
[Sérgio Lavos]
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